sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Jean Wyllys – “estrangeiro aqui como em toda parte”


JM Cunha Santos


Esse artigo sangra em minhas mãos. O autoexílio do deputado Jean Wyllys, a desistência do mandato de deputado federal conquistado em meio a ameaças de morte fulminam muitas esperanças de Paz, de normalidade democrática. Estará ele reiniciando uma debandada do país, retornando ao axioma ditatorial “Brasil, ame-o ou deixe-o?
São lembranças que não quero ter, barulhos que me nego a ouvir, pensamentos que vão me furar, pois eu quero e é necessário que no Brasil caibam todos os brasileiros, de todos os credos, todas as raças, todas as opções. Esbandalham-se, assim, os sonhos de Marielle, vil e impunemente assassinada na esteira de um regimen que ensaia os primeiros passos no rumo da exceção.
Para onde estão indo os brasileiros que lutam por Justiça, ontem como hoje, “estrangeiros aqui como em toda parte” conforme os versos do impagável poeta português Fernando Pessoa. “Para Onde Vais”, como na ecumênica pregação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Será esse o desterro, o degredo, o exílio de uma Pátria que, de repente, não nos cabe mais.
Viver sob ameaças de morte, residir em carros blindados, ninguém o suportaria, mesmo sabendo que, para tanto, às vezes é preciso trocar de dor; mesmo entendendo que o sol de outras terras será o mesmo, mas não brilha como brilha o sol daqui.
A Maryelle foi imposta uma viagem infinita, a Jean Wyllys o desterro do medo, do pânico que nos acorda para a realidade de armas em punho, em todas as casas, todas as ruas, em muitos corações.
“Se nos prenderem, se nos matarem, ainda assim estaremos de volta e seremos milhões”, como a construir uma África do Sul em cada peito, apartheid (apartada) do mal, livre do ódio, das chacinas, livre do extermínio, para viver, corpo adentro, seu sonho de liberdade. Porque, observem, eles já invadiram nosso jardim, pretendem matar nosso cão e partir com um cofo cheio das flores que regamos durante tantas vidas.
Mas é certo que não suportaremos ser estrangeiros durante muito tempo, pois que a carne que nos suporta, os ossos que nos sustentam, o couro que nos cobre e a alma que escondemos não sabem como viver longe do Brasil.

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