Do Portal Vermelho
Sob o tema “Governo Bolsonaro – Como o Brasil Pode Superar Essa
Encruzilhada?”, a mesa com a presença do governador maranhense incluiu os
ex-ministros Fernando Haddad e Celso Amorim, do PT, além da deputada estadual
Erica Malunguinho (PSOL-SP). O discurso de Dino, de 25 minutos, foi um dos mais
aplaudidos pelo público de cerca de 800 pessoas que lotaram o Tuca (Teatro da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), na região de Perdizes.
“Há um sentimento de perplexidade e angústia que se abre sobre a Nação. Vemos
uma direita política preconceituosa e violenta, forte e mobilizada”, afirmou
Dino, avaliando os primeiros meses da era Jair Bolsonaro (PSL). A direita
soube, diz ele, manipular a “agenda da corrupção” a partir das manifestações de
2013. “Essa pauta se entranhou na alma do povo brasileiro como a determinante
de todas as tragédias políticas e sociais que o País vive. É claro que a
corrupção é grave, mas a apropriação da bandeira dessa corrupção específica foi
para esconder as outras, inclusive a maior delas – a grande desigualdade social
do Brasil.”
De acordo com o governador, a vitória de Bolsonaro sobre a chapa de Fernando
Haddad (PT) e Manuela D’Ávila (PCdoB), nas eleições presidenciais de 2018,
“apenas reforça a tendência de ofensiva estratégica da direita. A esquerda
entra numa brutal defensiva”. Para alcançar a hegemonia e “inverter o sinal
histórico”, o bolsonarismo polarizou a classe média. Com isso, “cindiu o bloco
do lulismo” – a grande base que chegou a dar mais de 80% de aprovação ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Perdemos a classe média, influenciada pela agenda da corrupção. E precisamos
dela para recuperar a ofensiva histórica”, afirmou Dino. “Até temos ganhado
batalhas de hashtags nas redes, certo? Mas estamos perdendo as
batalhas no mundo material. Isso não nos serve”. Em sua opinião, “é preciso
recuperar a esperança na nossa ação coletiva, consciente e transformadora – mas
fazer isso com método”.
Frente ampla
Dino recorre ao exemplo do líder máximo da Revolução Russa, Vladimir Ilitch
Ulianov, o Lênin. “Nas Teses de Abril (1917), Lênin não
escreveu ‘Viva o Socialismo’ ou ‘Socialismo Já’. Ele escreveu ‘Paz, Pão e
Terra’. Assim, conseguiu galvanizar amplas correntes”. Traduzindo para os dias
de hoje, a ideia da frente ampla deve ir além dos partidos tradicionais de
esquerda. “Frente ampla não é retórica – é desafio. E só é possível fazer isso
com quem não é igual a nós. Falar com iguais é mais cômodo, mas não é
consequente.
Em sua visão, a base de Bolsonaro é composta, basicamente, de dois tipos de
apoiadores: o “bolsonarista raiz, hard”, com ideias preconceituosas, extremadas
e até fascistas; e elementos que se deslocaram circunstancialmente para a opção
Bolsonaro, notadamente em 2018. Dino propõe que, em vez de blocar o
bolsonarismo por completo, a esquerda isole a “base raiz” e tente atrair os
apoiadores de ocasião.
É preciso, nesse sentido, que a agenda da frente tenha “a democracia como
pré-condição”, o compromisso com o interesse nacional e a soberania, além de um
projeto para “a produção, o emprego e o trabalho”. Dino frisa: “Tem de ser uma
agenda de resistência e demarcação”. A frente ampla, formada com base nesses
princípios, é o que pode viabilizar as tais três tarefas que o governador do
PCdoB aponta para a esquerda.
Sobre essas tarefas, Dino detalha uma a uma. A respeito da “plataforma comum
concreta e comum de lutas”, a esquerda deve ter sensibilidade. “Se 25% da
população cozinha com lenha, porque o gás de cozinha está caro, é indispensável
ter propostas claras, que dialoguem diretamente com o povão. O que propomos,
por exemplo, em termos de emprego?”
Já as eleições 2020 abrem a oportunidade para avançar a presença dos valores
democráticos e progressistas nas cidades. “Será hora de união com generosidade.
Mesmo onde houver cem ou 150 candidatos bons [à prefeitura], como em São Paulo,
só dois ou três têm condições de ganhar. A esquerda deve conversar e se unir em
torno desses nomes”, afirma Dino. Uma vez eleitos, os prefeitos poderão
“transformar concepções abstratas em políticas públicas concretas”.
A terceira tarefa, a bandeira do “Lula Livre”, tem significado próprio,
simbólico. “Lula foi vítima de uma das maiores violências jurídicas já
perpetradas neste País, e sua prisão contém uma mensagem desmobilizadora. O
povão precisa da liberdade do presidente Lula para acreditar em si mesmo”,
considera o governador do PCdoB. Se os judeus ensinavam que “aquele que salva
uma vida salva o mundo”, Dino aplica a lição à realidade: “Lula representa
milhões de vítimas como ele. Lutar pela justiça para uma pessoa – no caso, para
Lula – é lutar pela liberdade da humanidade inteira”.
Educação
Na principal mesa do Salão do Livro Político, Celso Amorim e Haddad saíram em
defesa do legado de suas gestões nos governos Lula e Dilma. “Nossa política
externa altiva e ativa era um elemento importante do que Lula pensava do
Brasil”, disse Amorim. Além de sublinhar o papel do ex-presidente no processo
de integração sul-americana, o ex-chanceler lamentou que a relação de autonomia
do País frente aos Estados Unidos tenha ficado para trás. “Bush ligava para
Lula para pedir conselhos sobre como tratar a Venezuela. Hoje, nós recebemos
ordens.”
De acordo com Haddad, pensadores como Paulo Freire e Anísio Teixeira
foram “os grandes faróis” do Ministério da Educação (MEC) no governo Lula. “No
século 20, Brasil teimou em desconsiderar a agenda da Educação”, analisou o
ex-ministro. Porém, nos 13 anos de governos democráticos, houve, conforme
Haddad, “o maior plano de expansão e acesso” ao ensino superior em todos os
tempos, “Nas universidades públicas federais, 51% dos estudantes são negros, e
70% são egressos de escolas públicas. Há um incômodo em mexer nas estruturas do
País.”
O 5º Salão do Livro Político se estende até a próxima quinta-feira (30) no
Tucarena, uma das dependências do Tuca, na esquina das ruas Bartira e Monte
Alegre. Além de debates e apresentações culturais, a programação inclui uma feira
de livros, com mais de 40 editoras participantes.
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