terça-feira, 26 de maio de 2020

O que falta para essa ditadura ser uma ditadura?

JM Cunha Santos


As instituições públicas estão acuadas. É provável que seus membros sequer durmam direito no temor de que a qualquer momento tropas militares ou mesmo paramilitares rebentem as portas, apontem armas de fogo e seccionem de uma vez por todas a democracia. Porque o senhor presidente Jair Bolsonaro garante que tem o apoio das Forças Armadas.
Ameaças institucionais não faltam. Veem do presidente, veem dos ministros, veem dos grupos paramilitares que todos os dias se reúnem na porta do Palácio da Alvorada.
Ministros civis como Weintraub e Damares defendem publicamente um regime acima das leis, com um líder totalitário que tenha o poder de prender ilegalmente ministros do STF e governadores. O resto dos humanos veem mais fácil.
O governo isola o país diplomaticamente, no melhor estilo norte-coreano, ora atacando chefes de estado, ora atacando organismos internacionais e até os Estados Unidos foge do Brasil como o diabo da cruz. Já estamos fora das alianças internacionais que buscam uma vacina contra a covid-19, perdemos o protagonismo junto à OMS na América do Sul, estamos a ponto de perder nosso principal parceiro comercial, a China. E um número cada vez maior de países retira seus diplomatas do Brasil. A ditadura, como toda ditadura, se isola do mundo. A imagem do Brasil desceu a zero na comunidade internacional e o presidente da República diz que isso acontece porque a imprensa internacional é de esquerda. Valha-me, Deus!   
Enquanto o Brasil registra três vezes mais mortes diárias por covid-19 que os 27 países da União Europeia juntos, a política de confronto do Governo Federal em cima do povo se exacerba, com uma deputada antecipando operações da Polícia Federal contra governadores e a residência do governador do Rio de Janeiro sendo vistoriada no dia seguinte pela Polícia Federal por ordem de uma justiça apavorada.
Pior é que, com o pais seccionado por uma pandemia violenta, que mata impiedosamente em cada um dos municípios brasileiros, não há de haver melhor momento para a implantação de um regime de excepcionalidades, para consagração do autoritarismo contra um povo indefeso e debilitado pelo tamanho de sua própria dor.
O que falta para essa ditadura ser uma ditadura? Talvez o AI-5 defendido pelos filhos perigosos do presidente da República, que imponha a censura e o controle dos meios de comunicação, que limite ou revogue, de uma vez por todas, o direito à ampla defesa, que “prenda e arrebente” como no passado.
Mas não falta muita coisa. Já temos o medo, já temos as ameaças, já temos a polícia política.
Talvez nem falte mais nada.  

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