terça-feira, 16 de junho de 2020

O assassinato de Diogo Sarney e a Nova Ordem do Ódio

JM Cunha Santos


O ódio cobra seu preço. Cobra também dos inocentes, cobra também dos que o lamentam, dos que não o cultuam em nenhuma hipótese. O ódio, hoje, é uma metástase na carne, na opinião, no comportamento, nas opções políticas de muitos brasileiros que, atendendo aos rituais espartanos que explodem nas redes sociais a partir de concepções sediadas na Presidência da República, foram convencidos de que a bala deve substituir a palavra, de que a Justiça deve ser substituída pela arma de fogo.
Diogo Sarney foi vítima desse ódio. Não por questões políticas, mas porque ele (o ódio) foi inoculado em doses cavalares na alma brasileira. Há mais gente armada em nossas ruas do que em muitas guerras pelo mundo afora. E sentindo-se autorizadas pelo poder público.
Já chamei a atenção das autoridades aqui neste blog, para o número de pessoas armadas no trânsito de São Luís. E, é certo, da grande maioria das capitais brasileiras. Mas de que adianta? É a vontade do presidente da República, é a manifestação mais corrente do poder constituído.
Armar a população, flexibilizar o porte de armas, dar ao estado poder de vida e morte sobre o cidadão, através da excludente de ilicitude para policiais que matarem em serviço. Não são pregações de grupos terroristas, são determinações do presidente, são orientações do poder público.
Esse ódio pula e dança nas redes sociais, converte corações, mas também encontra lugar no trânsito, nos conflitos de vizinhos, no trabalho, nas discussões domésticas, nas filas, nos balcões, nas manifestações políticas e vai, aos poucos, se tornado dono e senhor da alma brasileira.
É terrível ver um jovem como Diogo Sarney ser morto por nada, por conta de uma batida de trânsito, um conflito que poderia ser resolvido com alguma boa vontade e alguns trocados. Mas é terrível também ver a polícia matando crianças nas favelas brasileiras a três por dois, com uma frequência que só se explica porque também eles, os policiais, se renderam a esse ódio que está infectando a Nação como um vírus.
Mas é a Nova Ordem. A Ordem do Ódio, da licença para matar. Todos os brasileiros, independentes de seu desnível de organização mental, armados até os dentes. Contra vizinhos, contra irmãos, contra outros brasileiros, contra alguém com quem apenas se discutiu no trânsito.
Vimos, na última campanha política, panfletos e santinhos serem substituídos por fuzis apontados contra inimigos imaginários; vimos que milícias assassinas foram engalanadas com troféus legislativos e comendas de honra da República; assistimos um discurso que exaltava a violência como argumento de fé e escambo social vencer as eleições.
E agora o ódio está aqui. O que vamos fazer com ele?  

2 comentários:

  1. Está mais do que na hora de os brasileiros, sensatos acordarem e reagir como pessoas de bem, que são.

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