JM
Cunha Santos
Acordo
cedo
abro
o sol
Puta
que pariu, que janela irresponsável
não
acessou a estrela em gotas que passava
nem
mesmo a aurora que, à falta de manhãs, secava
que
espaço mais sem rimas, o rasgo miserável
não
esperou pelo infernal barulho dos coturnos
não
deu tempo para a bala conversar
com
a gente, sobre o noturno
nem
sequer aguardou pelo olho cor de sangue
e
saiu-se a mostrar pobres aos bárbaros soturnos
nem
esperou que vestissem a Mahatma Gandhi
e
já se escancarava ao romano: se vingue
-
que não fique vivo um só Martin Luther King
que
ao sempre não pretendo ser a porta e a janela
quero
balas nas paletas, nos tendões, peles, costelas
negros
pretos estrepados pelas áfricas sem pão
quero
o lume, o volume, gentes negras no curtume
muitos
pedaços de pedros e muitas partes de joãos
vida,
vida
vida
na favela
favela
viva na vida
a
vida não é fivela
fivela
na vida viva
do
vivo lá na favela
viva
um pouco só de vida
joão,
que pedro foi para a estrela
quantos
cristos serão necessários aos pregos de tanta cruz
tem
gente matando Deus e se dizendo Jesus
tem
gente feita de carne, camargos feitos de pus
oh,
senhor, dá-me outra luz,
rimo
eu tanta crueldade
setenta
balas no peito
de
uma só virgindade
favelas
não são direitos,
favelas
não são cidades
favelas
são parapeitos
gritando
por liberdades
onde
joão pedro estará
com
os seus nenhum brinquedos
com
aquele corpo sem corpo, suas mãos virando dedos
será
que quer ser joão, que ainda ele quer ser Pedro
com
balas dentro da alma e seu madeiro de cedro
vendo
a favela gritar: não mata que ainda é cedo
é
negro e brilha com a noite, vagando em seu poliedro
só
tem 14 futuros e mil mães mortas de medo:
ele
quis ser pedro e joão; nem deixaram ser João Pedro
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