JM Cunha Santos
Notícias pagãs de que
ciclones atingiram o Brasil, causando 10 mortes no sul do país, deixando 580
mil imóveis sem energia elétrica em Santa Catarina, com ventos de 90 km por
hora, sucedem outras ameaças da natureza e que, felizmente, passaram ao largo
da costa brasileira. Uma nuvem de 400 milhões de gafanhotos preferiu se
deslocar para a argentina e uma tempestade de areia formada no deserto do Saara
parou, olhou, pesou os prós e os contras e preferiu manter-se distante da
América do Sul.
E, agora, inclusive sem previsão meteorológica, veio o ciclone
bomba explicar aos brasileiros que, embora Deus tenha nascido aqui, não estamos
imunes a desastres naturais.
Quero me convencer de que
esses desastres naturais são os recados dos ventos, os protestos de uma
natureza violentada pelo homem em busca do lucro fácil e a qualquer custo,
mesmo que esse custo seja o futuro do planeta e o destino das próximas
gerações.
E os recados são fortes. O
ciclone vagou por 101 cidades catarinenses, pelo Rio Grande do Sul e Paraná,
Rio de Janeiro e São Paulo, arrancando árvores e postes, derrubando placas,
deixando populações inteiras sem água e luz e depois foi brincar no mar,
levantando ondas de até três metros e meio, quase prenunciando que aqui também
um tsunami pode acontecer.
Mas um outro recado dos
ventos, mais silencioso, porém muito mais letal, permanece ainda impunemente no
Brasil – um vírus que já contaminou mais de 1 milhão e 400 mil pessoas e matou
cerca de 60 mil. Uma dor imensa e incontornável que o Brasil não esperava e
que, de fato, dilacera a alma de quantos viram seus parentes e amigos sumirem
nos leitos dos hospitais ou sumirem por absoluta falta de hospitais e de
leitos; um vírus que nos proibiu de beijar e abraçar, ensinando ao homem que,
por conta de suas maldades, os carinhos também podem matar.
E este vírus é também um recado dos ventos, pois está no ar, solto,
fulminante, denunciando nossa impotência física estrutural e o tamanho da fragilidade
humana.
Um vírus também político que abraçou a causa da extrema direita
aqui e no mundo, pajeando os que acham que salvar a economia é ainda mais
importante e oportuno que salvar vidas. E no Brasil defendeu intervenções
militares, atos institucionais, o fim da democracia e das liberdades e acabou
colocando os governadores dos estados de um lado e o presidente da República de
outro, este, como sempre, em defesa de todas as contaminações.
Mas os ventos continuam dando seus recados, dizendo que não podem
destruir e incendiar a Amazônia na proporção catastrófica que fazem hoje, que é
preciso guardar um lugar para os pássaros, jabutis e preás, para os tigres e
gentios e que podem, a qualquer momento, levar de roldão toda essa arrogância e
prepotência supremacista que esquece de Deus.
São os recados dos ventos. Anotem, retornem as ligações, conversem
com a ventania, com os gafanhotos, com a poeira do Saara, com os ciclones e
salvem este planeta da fúria da ganância e da violência das más intenções.
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