Em meio à grave crise enfrentada pelo Brasil, é
urgente uma nova agenda quanto à política econômica do país. Ainda há tempo
para corrigir graves erros. Um destes é a evidente perda de complexidade da
economia brasileira, a partir do acelerado processo de desindustrialização e
retração do setor na participação no Produto Interno Bruto do Brasil. Não
podemos concordar com o estabelecimento do país como uma espécie de plantation
do século 21, vocacionado apenas para a agricultura de exportação de alguns
poucos produtos. O Brasil é muito mais que isso. Nos últimos anos, os governos
abandonaram a política industrial e o desenvolvimento científico e tecnológico
como metas, o que explica, em larga medida, o quadro atual.
Destaco, ainda, o equívoco da tal “austeridade
expansionista”, contradição terminológica e lógica, mas que é utilizada por
muitos para explicar algumas medidas, como corte de gastos, privatização dos
serviços públicos, corte de direitos e deslegitimação dos investimentos
públicos. A tentativa de criar uma espécie de “Pacote da Confiança” ao mercado,
como uma meta suprema, não gera benefícios à Nação. Somado a isto, cito a
questão cambial que aponta para acelerada desvalorização do real e, por
conseguinte, inflação, ante o estímulo à exportação de alimentos e alto custo
de importações. O resultado é que o Brasil exporta, mas não consegue prover
alimentos com preço acessível à sua população, consoante os índices de inflação
estão retratando. Isso ficou mais dramático com a ausência de estoques
reguladores de alimentos.
É imperativo, portanto, que se estabeleça uma
agenda alternativa, pois só teremos retomada vigorosa da economia com o fim da
pandemia e fortes investimentos públicos. Infelizmente, o que presenciamos é um
presidente da República atuando como aliado do coronavírus, bem como
investimentos do Governo Federal em patamares baixos e ineficientes. É
fundamental a execução de políticas sociais efetivas, a exemplo do auxílio
emergencial, que precisa ser retomado imediatamente, porque significa alimento
na mesa e movimentação do comércio.
Em outra dimensão, é preciso atentar para o vital
papel dos bancos públicos, fundos constitucionais, empresas estatais e agências
de desenvolvimento, que dispõem de recursos para ampliação de impulsos à
economia, mas que não se materializam em virtude de desvarios ideológicos. A
propósito, reitero a defesa da impreterível revisão da Emenda Constitucional nº
95, medida que também deve compor essa agenda alternativa para a economia
brasileira. Observemos que nenhum país do mundo adota um teto de gastos tão
engessado na Constituição, especialmente diante da inédita crise global que
vivemos.
Sublinho, ainda, como aspectos estruturantes: o
estímulo à economia verde e sua inclusão em uma estratégia nacional de
desenvolvimento; a emissão de moeda para prover condições de funcionamento do
Estado, de forma ponderada e responsável; e a reforma tributária pautada em
dois vetores principais –simplificação e progressividade, respeitando a
capacidade contributiva.
Constitucionalmente, a gestão econômica cabe ao
Governo Federal, que há dois anos nada faz a não ser liberar armas e balas,
como se tiros fossem garantir empregos e dignidade à população. Não adianta
empurrar problemas aos governadores ou à sociedade, na medida em que somente a
esfera federal detém os principais instrumentos. Caminhos existem; precisamos
trilha-los coletivamente, na direção certa.
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