JM Cunha Santos
Termômetros
19 graus abaixo
a
nave mãe quase estica seus três gigantescos milímetros
Os
passageiros são somente sobras de existência que somem enquanto matam
os
motores de silício soam o ruído de uma valsa impenetrável
800
mil viajantes de uma transferência intergaláctica retiram o ar impuro das
coronárias
À
velocidade do caos absoluto a nave mãe salta de uma atmosfera para outra
atmosfera inesperada:
eles
estão partindo, tirando férias da asma humana programada
deixando
um mundo que agora inteiro cheira a éter e álcool salinizado
300
mil mortos atrás livram-se de um milhão de almas condenadas
e
pisam o espaço com a força de cadáveres sintéticos em marcha
As
cefaleias berram sozinhas sem cabeças e pulmões comprometidos
e
os últimos astronautas dessa guerra contra o invisível cumprimentam os últimos
suspiros de uma vida bastarda
Na
terra um imenso rastro de hemorragias incorrigíveis
atordoa
os visitantes de universos paralelos em viagem
que
com brocas micro-orgânicas cavaram os humanos até os últimos limites do
inacessível imponderável
Num
mundo de portas fechadas as janelas são perigosas
mas
encanta ouvir os gritos dos patógenos letais sincronizados: -Adeus planeta, adeus Brasil,
nós
voltaremos antes da próxima saudade!
(Do
livro inédito Lockdown – a literatura da solidão)
Nenhum comentário:
Postar um comentário