JM Cunha Santos
Quando
eu já gastava meio metro de por do sol
Cristo
ainda atordoado veio me pedir perdão
Não
estava feliz naquela cruz sem mundo
porque
muito velha e desgastada
já
não lhe sustentava o peso de dois mil anos de pecados e ilusões
-
Esse mundo de romanos nunca acaba – lamentou posando para a metralhadora no meu
celular
Pediu
penicilina, mas também ternura para curar as chagas no seu coração
Queria
o meu corpo para alguma coisa no purgatório que não entendi
Não
dei, porque enfiado num profundo poço de salmos,
eu
só conseguia pensar em nunca mais me soltar de suas mãos
Parecia
Jesus ter saído dos salões do Barbeiro de Sevilha
sem
as barbas desenhadas pela História e sem os longos cabelos
que
nunca aprendeu a pentear
Mas
suas rugas estavam lá pingando arrependimento e solidão
Disse-lhe
da pandemia e dos pastores armados até os dentes
e
ele me mostrou, na alma, o lugar no ombro esquerdo em que se vacinou
Mais
meio metro de por do sol e ele se cercou de cometas dizendo-se cansado de tanta
ressurreição
Vi
as passagens intergalácticas nos seus bolsos e perguntei aonde ia
-
Não sei, mas para a Terra eu garanto que não volto mais
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