JM Cunha Santos
Cena I
No meu sonho helicópteros metralhados desabam sobre as residências de populações indefesas e junto com eles o poder do estado laico que imaginamos ter no Brasil. Ninguém reza, mas os corpos queimando não incomodam tanto. O que incomoda mesmo é a notícia de que organizações sindicais brasileiras estão se transformando em milícias pretorianas armadas, contratando jagunços a R$ 250 por cabeça para se combaterem entre si.
Já em 13 de maio de 2008, o Centro de Mídia Independente (CMI) noticiava a invasão e destruição de um Sindicato ligado à Consult por 30 homens armados pela Força Sindical. “Estão invadindo nossas bases”, disseram resgatando comportamento similar ao do crime organizado em disputa por territórios. Mas o que era um episódio isolado está se tornando prática do sindicalismo brasileiro.
Na lembrança, a trilogia do escritor americano John dos Passos em torno do assassinato do ativista sindical, autor e intérprete de cantos de intervenção político-social, Joe Hill. A descrição demorada de uma América dominada por monopólios e trustes, por organizações de gangsteres e sindicatos dominados pela corrupção.
CENA II
Fortunas ilegais são montadas às custas da prostituição, mortes por encomenda e propinas nos bueiros do serviço público. Ninguém reza. A igreja católica fatura quase R$ 700 milhões em esmolas e o mercado evangélico é o terceiro faturamento do país calculado em R$ 1 bilhão de reais por ano.
Em janeiro de 2009 três cadernos com a contabilidade dos traficantes do Morro da Mangueira apreendidos pela polícia indicaram o faturamento de R$ 1 milhão em apenas um dia. E o Brasil, meu Brasil brasileiro caia 9 pontos na lista dos países menos corruptos do mundo.
A ordem crescente da corrupção no país está registrada na enciclopédia eletrônica Wikipedia. Nos anos 70, a enciclopédia registra 22 escândalos de corrupção; na década de 80 ocorreram 17 escândalos graves; na década de 90 foram registrados 96 casos; e nesta década de 2000, 124 escândalos calculados em milhões de dólares passaram para a história. Os de número 123 e 124 são os da “Operação Boi Barrica” e da Fundação José Sarney.
A Fundação Getúlio Vargas calcula que somente a perda de produtividade provocada por fraudes públicas corrói o país em 3,5 bilhões de dólares por ano. Se pensarmos que somente os 150 milhões de dólares garfados pelo juiz Nicolau dariam para construir 200 mil casas populares e abrigar cerca de 800 mil pessoas concluiremos que a corrupção é o mais hediondo de todos os crimes do país. E consome aos cofres públicos R$ 10 bilhões por ano. Caso puro e simples de genocídio calculado.
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