JM Cunha Santos
Peço licença para literalizar um pouco esta coluna e tecer breves comentários sobre o magistral ensaio de Witold Gombrovicz “Contra os poetas”.
O texto, que me chegou ás mãos através da revista “Poesia Sempre”, editada pela Biblioteca Pública Nacional (que inclui alguns poemas meus como inéditos) no exemplar que sintetiza a moderna poesia da Polônia, defende uma tese de arrepiar os cabelos: a de que quase ninguém gosta de poesia e que o mundo da poesia versificada é um mundo de mentirinha, uma falsificação.
Gombrowicz não gosta de poesias, mas acerta em algumas coisas. Quando condena, por exemplo, o excesso de metáforas, o excesso de sublimação, o excesso de condensação (o que geralmente não se percebe, por exemplo, em Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade) e de limpeza o que, segundo ele diz e eu concordo, faz os poemas parecerem produtos químicos. Ele é mais fulminante ainda quando afirma que hoje se é poeta como se é médico ou engenheiro.
Ao lamentar que os poemas façam parte nestes apenas de mundos idênticos de pessoas idênticas mais uma vez está corretíssimo. A poesia tende a se afastar cada vez mais da compreensão humana.
Já condenei, por diversas vezes, em palestras, discursos e escritos, a existência de uma poesia sem sentimento, aparentemente feita de plástico, zinco, latas velhas, para usar minhas próprias metáforas. Pois quando diz que a poesia já perdeu a muito tempo o contato com o sentimento humano, Wiltold Gombrowicz se alia à palestra que fiz na última Feira do Livro e que mereceu crítica áspera de alguns jovens poetas. Mas não tenho aqui espaço nem tempo para discorrer sobre o sufoco das imagens poéticas que se arrastam na literatura dos dias de hoje. O que tenho a dizer é que uma assombrosa filosofia emerge do ensaio “Contra os poetas”, de Gombrowicz. Os que assistiram à minha palestra lembrarão, no entanto, que, embora não tivesse eu até aquela época nenhuma notícia de Witold, acabei parafraseando o que estava no ensaio deste escritor que viveu entre os anos de 1904 a 1969:
“No instante em que os poetas perderam de vista o ser humano concreto, e fixaram os olhos na abstração da Poesia, nada mais já podia retê-los no plano inclinado que leva ao abismo do absurdo. Tudo começou a crescer por si mesmo. A metáfora, liberta de todo freio, mostrou as presas, enfureceu a tal ponto que hoje não há mais nada nos poemas, senão metáforas”.
Caríssimo JM Cunha Santos, costumo dizer para mim mesmo que sou o último gostador de poesia, tinha um outro amigo, mas isto´já é outro tempo...bem, como dizia, a poesia para mim não está só no verso, está na prosa, está num dia dia chuvoso ou lindo, enfim...mas questionamentos relevantes sim, desse Gombrovicz, acho que parece fácil fazer poesia, chegando alguns a produzir três, quartro poemas por dia, acho um absurdo, pois o poema pede para ser tratado, refeito, sem perder a alma, mas ser uma coisa de "matéria plática", enfim...
ResponderExcluirps. meu caro fiquei mutíssimo feliz em te ter como seguidor, e lendo teu blog percebo o quanto terei para aprender e me inspirar. GRANDE ABRAÇO
CUNHA SANTOS: bem se vê que o senhor GOMBROVICZ nâo sabe nada da teoria do "poeta- fingidor", do nosso FERNANDO PESSOA..."Opoeta é um fingidor/finge tão completamente/ que chega a fingir que é dor/ a dor que ,deveras, sente"
ResponderExcluirMEU AMIGO, obrigada por estar a seguir-me! Fui ao seu blog, gostei, falamos a mesma língua, a da poesia que é AMOR...e espero por ti(pode ser?) no LUSIBERO
AQUELE ABRAÇO!