JM Cunha Santos
Assisti às cenas de tortura filmadas num presídio de Santa Catarina e divulgadas no Fantástico. As vítimas provavelmente eram assassinos sem alma, bandidos, gente que se tornou capaz de tudo e cometeu os mais hediondos crimes que a mente humana possa conceber. Pessoas para não se perdoar e de quem não ter piedade.
Mas sempre que me deparo com cenas de tortura ou com a simples possibilidade da existência da tortura, me pergunto se, afinal, é este um dos prazeres humanos que a mentalidade hedonista à nossa volta elegeu como uma de suas melhores sensações.
Abomino a hipocrisia visível nas entrevistas de autoridades que fingem não saber que nas prisões deste país, passados tantos anos do regime de exceção, a tortura ainda é o principal método de investigação e sujeição de presos. Aqui mesmo no Maranhão há o exemplo, não solitário, do episódio dos meninos emasculados no qual bestas desumanas arrancaram confissões de inocentes, que ainda por cima amargaram anos de cadeia, para dar respostas à indignação popular e justificar a incompetência do Estado que não conseguia encontrar o verdadeiro ou os verdadeiros assassinos.
A satisfação em contemplar a dor alheia ou em infligir dores insuportáveis em outras pessoas não nos é explicável à luz de nenhuma doutrina social, psicológica, patológica, analítica. De nenhuma doutrina humana. Há quem queira explicá-la na obrigação de habitar sociedades depravadas ou na convivência forçada e sistemática com a violência. Mas aí também não encontro razões que tornem inteligível o orgasmo virulento de um torturador diante de sua vítima.
Desde a Santa Inquisição, na Idade Média, quando homens divinos armados de alicates, tesouras e garras metálicas trituravam seios e mutilavam órgãos genitais à procura dos sinais de Satã, a tortura é uma incógnita psiquiátrica, pois não define o prazer interior dos carrascos; o mesmo prazer que alimentou as almas dos alemães contra os judeus na Segunda Guerra Mundial, dos brasileiros contra os escravos na diáspora, dos americanos em Guatánamo e de “especialistas” nas prisões e investigações no Brasil.
Não há termos, expressões, palavras que descrevam o prazer mórbido de fazer seus semelhantes engolirem fezes e urina como, aliás, aconteceu naquela prisão. Não há o que determine os limites de gozo de um torturador quando ele apaga cigarros acesos nos olhos de suas vítimas.
O que se tem como certo é apenas que eles existem, sem que se saiba exatamente o que habita seus cérebros e suas almas.
Grande texto, amigo. Boa tarde e um abraço
ResponderExcluirFrancisco