CONTOS DE DOMINGO
JM CUNHA SANTOS
VEGETAL MALDITO
JM CUNHA SANTOS
VEGETAL MALDITO
Macaxeeeeira! Macaxeeeeira!
- Tem da grossa, tem da fina, tem da mole e tem da dura!
- Macaxeeeira! Macaxeeeeira! – gritava o vendedor, esgoelando-se, suando em bicas, dias seguidos na porta do Palácio. Parece que ninguém ouvia.
- Ô imbecil, não é assim que se vende para o governo. Precisa de um documento explicando as vantagens do produto. Pergunta pro Fernando sobre o valor energético que de valores energéticos ele entende tudo.
E lá se foi o vendedor a preparar uma extensa exposição de motivos, sobre as propriedades, os sais minerais e vitaminas benéficos e explicar o mais difícil: como tirar o veneno da macaxeira.
Ensinou a fazer beijus, pirões, sopas, mingaus, enfim, como engolir macaxeira sem chorar nem morrer de raiva. Principalmente informou que macaxeira solta a casca com facilidade e solta mais fácil ainda a casca da esquerda que a casca da direita. Contou, inclusive, a lenda da mandioca cuja origem seria o corpo de uma criança, filho de um pecado de amor. Depois de tantas explicações encontrou outra dificuldade.
- Mas cara, quem governa nesse palácio é uma mulher!
- Se é mulher, diz que não tem gordura, rapaz. Diz que não tem gordura que tu vende tua macaxeira.
Assim foi feito. Além de repetir mil vezes que macaxeira não tem gordura, o vendedor deixou claro que o produto pode ser consumido por portadores de várias doenças, inclusive a Corruptose que, diferente da escoliose e da hipovitaminose, não tem cura. Abriram-se então os portões do Palácio para a compra de macaxeira e outros vegetais do mal como “comigo ninguém pode”, mamona podre, pinhão de purga, espirradeira, todos de cores atrativas, sabor agradável, mas violentamente tóxicos.
Mas naquele Palácio ainda tem muita gente com saudades daqueles gritos:
Macaxeeeeeira! Macaxeeeeeeira!
Tem da grossa, tem da fina, tem da mole e tem da dura.
Não percam no próximo domingo “A guerra dos genros”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário