A sarna pega

JM Cunha Santos

Como parasitose da pele, do corpo e da alma, a sarna pega e costuma atingir regiões escusas, como vesículas, sulcos interglúteos, axilas e couro cabeludo, até provocar uma coceira desproporcional, irresistível que obriga a chafurdar, esgravatar, dilapidar o patrimônio público.

É uma coceira infernal, principalmente durante a noite, quando todos dormem e ninguém ouve o arrastar de chinelos noruegueses e sapatos de cromo alemão na direção dos cofres. A sarna é um ácaro maldito, que perfura e perfura até infeccionar a personalidade e deformar o caráter. Além de tudo é injusta, com suas coçaduras impunes que sempre levam à reclusão dos contaminados, nunca dos transmissores da sarna.

Difícil é enfrentar a dermatite e a escamação causadas pela sarna, pois elas se divulgam publicamente, exoneram a qualquer um da moral e dos bons costumes, pois se coçarão em regiões pudendas. E nem adianta lavar-se com água quente, que essa escabiose toma conta do corpo todo, quando não toma conta de toda a família. É difícil porque é tudo muito próximo, tudo muito cutâneo.

A regra é o afastamento imediato dos que pegaram a sarna. Da escola, do trabalho, do PARTIDO; o isolamento é inevitável para que a sarna de um não se transforme no surto ou epidemia de todos. A doença, afinal, pode ser transmitida por contato pessoal, compartilhamento de idéias infectadas, falta de higiene pública e todas essas deformações que facilitam a proliferação de parasitas.

Para evitar a doença evite aglomerações em Palácio, conversas de pé de ouvido com secretários duvidosos e fique longe, bem longe da Casa Civil e da Ilha de Curupu.