JM Cunha Santos
Reiteradas vezes o Jornal Pequeno, assim como outros órgãos de imprensa, tem apelado à consciência pública e às autoridades para que se ponha fim à licença para matar que se acha encravada na família brasileira. E por conta da proliferação de armas em mãos de pessoas que muitas vezes pensando em se proteger colocam em risco suas vidas e as de seus semelhantes.
A consternação pública que vem de Realengo, bairro carioca no qual por obra de um homem doente, 12 crianças foram chacinadas em uma escola, finalmente fez com que se movimentasse o Ministério da Justiça. Uma nova campanha de desarmamento está nas ruas do país e certamente esse clamor salvará muitas vidas. Infelizmente, no Brasil, não são apenas os loucos que matam, eles, na verdade, são minoria nessa estatística de horror. Mas é provável que os efeitos dessa campanha só perdurem até que os homens se armem novamente e crianças e adolescentes nos desafiem nas ruas presas de um ódio inexplicável e de um mais inexplicável ainda desejo de matar.
Se imaginarmos que em uma única dessas campanhas foram entregues cerca de 500 mil armas em todo o país, concluiremos, facilmente, que qualquer um pode morrer, a qualquer momento, em qualquer canto de rua. Afinal de contas, há um exército enorme e sem controle circulando por todos os lados com a disposição de ceifar vidas humanas.
Não se pode discutir o óbvio. Armas não servem a nenhum outro propósito que não seja o de matar gente. Pensar o contrário é ser imbecil. E se o Brasil é o país mais violento do mundo, mais que muitos países em guerra, porque as autoridades não conseguem impor limites à indústria de armamentos, porque se permitem assistir inertes à eliminação física da juventude brasileira?
Realengo é um alerta desumano, uma tragédia desgraçada, mas as armas nas mãos do louco vieram de algum lugar, foram, certamente, manipuladas por mãos de pessoas normais. “Armas não sabem sorrir”, disse o poeta, mas quando são crianças que vivem à mercê dessa criação demoníaca, o melhor é que ninguém sorria mais.
Temos o Exército Nacional, temos a Polícia Militar, a Polícia Federal, o Ministério da Justiça, a autoridade suprema da Presidência da República, governadores. É impossível que em nome de uma licenciosidade democrática estúpida e sem sentido continuem a permitir que se lave com o sangue dos inocentes uma honra política que deixa de existir quando nossos filhos preferem não freqüentar a escola porque têm medo de morrer. Ao que parece, quase todos no Brasil, se nada ganharam, pelo menos ganharam dos homens públicos essa terrível e deliberada licença para matar.
Meu poeta não demore a postar materia nova no blog. Não deixe a ressaca lhe abater...
ResponderExcluirAs fe´rias acabaram, a ressaca já passou e novas matérias já estão sendo postadas
ResponderExcluirGrande Cunha Santos,
ResponderExcluirProgresso e assassinato em massa andam um ao lado do outro é o que nos diz o notável escritor inglês John Gray em seu admirável livro "Cachorros de Palha". E mais : "os humanos são animais fazedores de armas e com uma insaciável inclinação para matar".