O fuzil

JM Cunha Santos

Esse fuzil foi feito para nos defender de invasões estrangeiras, para expulsar daqui os que tentarem humilhar o solo pátrio, foi feito para a guerra contra outros mundos e não para policiar nossas mentes.

Esse fuzil foi feito para entoar cantos de liberdade, para evitar que nações constranjam outras nações, para demarcar fronteiras, para garantir armistícios, para que não sujem nossos brasões nem enxovalhem nossa bandeira.

O medo não é a única função de um fuzil e a função de um fuzil também pode ser a paz. O fuzil em suas mãos, a baioneta que rasga o sol, os carros de fogo que voam sobre nossas cabeças não deveriam estar aqui. Deveriam servir para deter os tiranos, para acalmar as almas feridas pelo poder discricionário que deixou essa cidade sitiada, apenas e simplesmente porque não cansa de ser poder.

Esse fuzil velho de tantas guerras não guerreadas, que fabrica o silêncio por onde passa, é a arma dos que almejam uma pátria livre, dos que sonham com o estado de Direito, dos heróis brasileiros que enfrentaram nazistas em luta pela democracia; a arma dos que são capazes de dar a vida pela liberdade.

Esse fuzil está aqui porque o sonho virou pesadelo, porque perdemos o caminho das flores, porque esquecemos de lutar na hora certa e deixamos a Primavera não acontecer. Ele passeia em mãos de jovens imberbes enquanto a força pública acampa e a população desnorteada se pergunta para onde vai.

Mas esse fuzil também será testemunha de tudo o que foi feito para que não existissem fuzis, nem homens armados, nem ódio consagrado em nome de ninguém. É preciso aceitar de volta a Primavera, guardar todos os revólveres, todas as baionetas e com gestos de paz e sorrisos libertar o Maranhão.