quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

PESAR A FLÁVIO DINO OU TRATADO FILOSÓFICO DA DOR ALHEIA


JM Cunha Santos

Filhos não sofrem, transferem dores. Não partem, viajam dentro da gente;

Filhos não crescem, esticam as ilusões; não tardam, eternizam as madrugadas.

Filhos não adoecem, aumentam o dia; não pensam, preocupam o futuro.

Filhos não entendem, modificam; não esperam, chegam antes de nós.

Filhos nunca estão aqui nem lá, estão presentes; não vão nem ficam, passeiam na solidão dos pais.

Filhos não adormecem, trocam nossos sonhos; não erram, mudam nossas virtudes;

Filhos não são crianças, são projetos que não podem dar errado; não pecam, inventam o perdão.

Filhos não abraçam, cercam para sempre; não respiram, fazem faltar o ar.

Filhos não escolhem, obrigam; não choram, desrespeitam nossa dor.

Filhos não pedem, dão ordens; não fracassam, esperam por nós.

Filhos são filhos e em sendo filhos não morrem; se diluem em nossas veias à procura de respostas que também nós não conseguimos encontrar.

E que nos sejam plenas todas as certezas de que entre todas as alegrias os filhos serão a maior alegria e de que entre todas as dores não haverá dor maior.

15 comentários:

  1. Caríssimo poeta,

    Suas palavras certeiras , poéticas e cortantes, atingem meu coração de mãe e avo , já perdi pessoas queridas, pai e irmão, mas nada se compara a perda de um pedaço da gente. Me solidarizo com a dor da família e envio minhas orações ao senhor Deus de todos nos ,para que console e acalente a todas as pessoas desta família.
    Não consigo conter as lagrimas que seu texto provocou.
    Grata por tanta sensibilidade e certeiro uso de palavras para expressar o que sao os filhos de nossa vida e alma.
    Com admiração e respeito.
    Dulce Britto

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    1. ulce e JM... ainda em meu ventre, perdi um bebê e senti muito... hoje, mãe de duas lindas garotas de 14 e 13 anos de idade, não consigo imaginar essa dor ... só de pensar, me arrepio e choro(como agora estou)... só de vê-las sofrendo por uma dor qualquer, uma queda, uma virose eu simplesmente sinto aqui dentro de mim, é inexplicável!Eu, Alessandra, mulher, profissional e mãe... simplesmente MÃE!Emociono-me ao ler palavras tão simples e ao mesmo tempo tão fortes... Sensibilizo-me com a dor que a família de Flávio Dino está sentindo e inevitavelmente me transcendo para esse mesmo sentimento. Depois que temos filhos, nossos sentimentos afloram em pequeninas mãos, bocas, sorrisos, olhares, pequenos gestos e palavras que não saem de nós, simplesmente saem de pedacinhos de gente que colocamos no mundo... Que DEUS abençoe a todos esses pais que de alguma forma demonstraram e demonstram carinho e um imenso sentimento de pesar por essa perda de Flávio Dino.
      Um grande abraço a todos!

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    2. Dulce, você me convence de que nada se deve pensar sobre as pessoas antes deconhecê-las. Há mais poesia em você do que você imagina.

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    3. Você me fez pensar, Alessandra. Pobres de nós homens, que não temos o direito de ser mães. Nunca encontraremos as raíses reais do amor e da poesia...

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  2. Nobre amigo Cunha,
    Sempre fui admirador de seu texto dada à lucidez e facilidade com que você consegue ordenar as palavras e se fazer entender muito bem. Principalmente palavras inspiradas pela dor de imaginar um pai e uma mãe que perdem um pedaço de si assim... simplesmente. Me emocionei e pedi a Deus nosso Pai que eu nunca viva essa dor. E que Deus conforte as almas de Flávio, sua esposa e os irmãos do Marcelo.

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  3. Agradeço, Luís Carlos. É qusse impossível imaginar tamanha dor.

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  4. Obrigado, deputado. Vindo de você, cujos textos sonheço e admiro, é um ótimo incentivo.

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  5. Cunha, não é de hoje que acompanho seus textos... o que posso dizer? Que vc é um gênio? um poeta? um tradutor de sentimentos? de revolta? de anseio?... Posso dizer tb que vc é apenas talentoso, mas isso seria injusto, pois não possui apenas facilidade para escrever, vc tem um DOM. O dom de alegrar a alma que lê seu texto, mesmo nas horas mais difíceis. Parabéns.

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  6. Querida Isabela, que me dê Deus, realmente, esse poder de traduzir sentimentos.

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  7. Um dia, quem sabe, a poesia venha nos salvar a todos. Belos versos.

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  8. Cunha Santos voce ,sem sombra de duvidas, e' o mais brilhante jornalista do Maranhao. Parabens pelo texto.

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  9. Vou verificar, anônimo. Mas sei que o Poder Judiciário nos últimos tempos anda se envolvendo em coisas do arco da velha.

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