O salário de Aline Louise

JM Cunha Santos

A matéria da correspondente do Portal Terra, jornalista Aline Louise, denunciando que os deputados maranhenses recebiam 18 salários por ano, deixou à mostra algumas idiossincrasias do jornalismo do Maranhão e do país, principalmente o jornalismo político.

A reportagem reativa a idéia de que o jornalismo sério, praticado sem atender a interesses subalternos, serve magistralmente à sociedade e contribui para o aperfeiçoamento das instituições públicas. Tanto que, diante do fato consumado, os deputados tiveram que retroceder desnivelando seus vencimentos de 18 para 15 salários anuais. Um ato de cinismo, segundo o comentarista Arnaldo Jabor, da Rede Globo. Só não disse que esse “ato de cinismo” tem por escopo a Câmara Federal, onde essa prática nasceu, vingou, perpetuou e criou raízes. Em outras palavras, a matéria da jornalista maranhense, mais que um desvio regional, expôs um escândalo nacional contido pela imprensa política do país e o oportunismo de um Congresso que legisla em causa própria.

Num Estado em que a grande maioria de nós repórteres políticos está viciada, (eu disse nós) pendurada em cargos comissionados – até por questões de sobrevivência, pois o salário, Ó – de tal forma que pouco ou quase nada pode fazer por esse urgente aperfeiçoamento das instituições públicas, o jornalismo real soa estranho.

Como a matéria, por sua importância e pelo alcance nacional da denúncia, ficou impossível de não ser repetida e comentada, os “donos” da imprensa obrigaram que o nome de Aline fosse subtraído de quase todos os comentários, ilações e entrevistas sobre o assunto. Alguns cometeram o absurdo de citar apenas o nome do repórter paulista sub-redator do texto; outros simplesmente repetiram a matéria sem o nome de Aline Louise.

Os salários anuais dos parlamentares foram reduzidos, mas o salário de Aline está pago. E é apenas um 13º de satisfação profissional e de impagável sensação do dever cumprido.