JM Cunha Santos
Dois homens se enfrentam num quadrilátero. A pancadaria é infernal. Veias rebentam, o sangue espirra, o corpo quebra, os hospitais esperam. Crianças de todas as idades assistem via televisão ou pela internet. Assim nascem os novos ídolos da adolescência e da juventude, os cultores do UFC, ou MMA, o torneio de artes marciais mistas que glorifica na Rede Globo o que Galvão Bueno trata apoteoticamente de “Gladiadores do Terceiro Milênio”. E as crianças aprendem que a violência estúpida e sem propósito também pode ser boa.
As crianças na frente da TV não sabem que os gladiadores da História não passavam de bestas sanguinárias, divertindo monstros encapados de seres humanos com muito poder nas mãos. Nem que as postas de carne humana que aqueles gladiadores espalhavam nas arenas muitas vezes significavam sua própria sobrevivência. Era matar ou ser executado pelos príncipes de Roma ou Faraós.
Em novelas, filmes, documentários, entrevistas, os “novos gladiadores” são apresentados como pessoas ternas, até infantis, honestos, bons pais de família, de caráter ilibado, homens apaixonados, seres poeticamente descritos para uma sociedade que não se cansa de ilusões. E essa é uma ilusão sangrenta na sala dos nossos filhos. Que eles aprendam o sabor de bater e que não é tão triste assim matar. Aprendam que a violência dá lucro. O Ultimate Fighting Championship (UFC) vale, hoje, 1 bilhão de dólares nos Estados Unidos.
A Rede Globo prepara agora o The Ultimate Fighter, um reality show com estréia prevista para 25 de março no qual duas equipes de sanguinários bestiais decentes e amorosos vão se enfrentar. Num país em que por R$ 100 jovens incendeiam mendigos em praça pública, era só o que faltava. O poder do ilusionismo global vai trazer para dentro de nossas salas o que Éder Jofre, um dos maiores pugilistas da história, descreve assim: “O MMA é assassinato”. E como na disputa por audiência não há fronteiras, os líderes desse novo reality show, o americano Vítor Belfort e o brasileiro Vanderley Silva vão levar para dentro das jaulas onde vão comer sangue com fama, sob os holofotes da Rede Globo, em transmissão para milhões de crianças e adolescentes, as imagens de Deus e de Jesus Cristo.
Que assim seja!
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