terça-feira, 1 de maio de 2012

Cavalos da morte

JM Cunha Santos

Os motores roncam dia e noite em alta velocidade, atrapalhando o trânsito, atrapalhando os dias, interrompendo as segundas-feiras, fazendo suar ainda mais uma semana de trabalho e medo. Aqui, ali há um corpo estendido no chão e uma máquina que, desprezada, ronca sozinha ao lado do cadáver.

Por trás de capacetes sofisticados escondem-se os rostos de trabalhadores, pais de família, motoboys, amantes do esporte, mas também de assaltantes e de monstros sem alma que vão matar. Os cavalos da morte penetram em qualquer lugar, saem de todos os becos, sobem quaisquer declives, estão em todos os lugares deixando um rastro de sangue cujo odor espiritual é quase impossível de suportar.

A cacique de Grajau, Maria Amélia Guajajara, de 52 anos, foi assassinada por dois pistoleiros que montavam um cavalo da morte. Quase todo mundo morto por crime de encomenda ouviu antes esse ronco do inferno, o barulho, a tosse inconfundível dos cavalos da morte.

Os cavalos da morte escondem os rostos dos assassinos e já deviam estar proibidos neste país. Assim como aqueles carros terríveis, com vidros negros terríveis que ninguém identifica quem os ocupa. Décio Sá foi morto por pessoas montadas em um cavalo da morte. É sempre assim. Dois cavaleiros solitários, dois sicários do demônio, cheios de razoe$ para matar, fabricando órfãos e viúvas no selvagem faroeste dos chips e computadores, das webs e portas eletrônicas, provando que tudo evoluiu ou regrediu, menos a maldade humana.

E os cavalos transitam imponentes, velozes, voadores, cometendo atrocidades, insultando Deus e diminuindo os homens. Nas mãos dos cavaleiros, um endereço, uma foto, o rosto para eles desconhecido de qualquer um cheio de vida que em pouco tempo vai morrer.

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