JM Cunha Santos
A passeata de protesto pelo assassinato do jornalista Décio Sá reuniu muitas pessoas. Os cantos falavam de um rapaz latino americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior. Falavam de gente que, de braços dados, seguia uma canção e que, em meio a gente armada, amada ou não, perdeu a liberdade e perdeu a vida no fogo de uma ditadura militar que se extinguiu. Falavam de uma nova oração e do sangue da ferida no chão. O sangue da imprensa, o sangue quilombola, o sangue rural, o sangue indígena se misturando às águas de São Marcos.
No passeio público de uma praia de assassinatos, rostos se contraiam de angústia diante da força bruta e a cidade dos poetas, ensanguentada, disse NÃO à pistolagem, pediu Justiça e Paz. Paz e Justiça que não estamos alcançando, que não sabemos onde está e que as gargantas molhadas de água mineral, ao sol inclemente do meio-dia, insistiam em pedir. Bandeiras de dor rasgadas na via pública, cartazes em cartolinas, nomes de mortos, de muitos mortos e de seus assassinos impunes.
Mas aquele não era, ainda, o sol da Justiça, se não sabemos quem matou Décio e, menos ainda, quem mandou matar; se já conferimos mais de um assassinato por mês, cometidos por pistoleiros, fulminando almas em todas as classes sociais.
No final, a “Canção da América”, a América interrompida pela covardia e pela fúria, foi entoada pelo Coral de São João reclamando que “amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito”.
Balões brancos singraram os céus em sinal de Paz.
Para onde se dirigem os balões? Será que estão indo para onde o crime foi combinado? Será que vão ao encontro dos assassinos? Será que vão passar, antes, no Tribunal de Justiça, na OAB, no Ministério Público, na Federação dos Municípios, na Secretaria de Segurança, no Palácio dos Leões, em alguma Prefeitura, na Assembleia, ou Câmaras de Vereadores?
Será que os balões também vão reclamar de que suas vidas são tão passageiras?
É triste, tão triste quanto a morte triste do amigo, nunca saber, depois de tantos dias de vida, para onde se dirigem os balões...
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