O GUERREIRO SOLITÁRIO

JM Cunha Santos

Como um guerreiro solitário a defender sua cidade, o prefeito João Castelo enfrenta o Império de José Sarney. Enfrenta um terrível ritual de imolação de São Luís. Com seu exército de muito poucos em defesa da cidade e de seu povo, vê que a maioria dos políticos e partidos, inclusive os que deviam ser seus aliados, corre para os braços do Imperador.

Porque o Imperador tem à sua disposição armas de analfabetização das massas, porque se acha dono da Justiça e dos partidos políticos, porque possui tesouros insondáveis, pode comprar consciências, impõe todas as suas vontades há quase meio século e precisa de mais séculos e súditos para que seus descendentes continuem donos do Maranhão.

A luta é titânica, pois os rios, praias, os oceanos da cidade foram invadidos por exércitos de bactérias, transformaram o aeroporto num aglomerado de tentas espíritas e as rodovias que dão acesso à cidade sitiada foram fulminadas pelos exércitos políticos do Imperador. Deixaram a cidade sem água, bombardearam um hospital e uma avenida litorânea e os outros generais, os “guerreiros da oposição” fazem de contas que não vêem nada disso, preferem atacar o guerreiro solitário que resiste com apenas o povo desarmado a seu favor.

O povo grita, vaia nos encontros dos cientistas, dos poetas, dos artistas, mas os áulicos, vassalos e soldados do Imperador não se rendem, porque os exércitos da oposição - PSB, PT, PPS, PC do B, PSC, PTC, dentre outros, por decisão de seus generais, acamparam na ilha particular do Império, não resistiram ao brilho sofisticado do Palácio dos Leões, do Palácio Henrique de La Rocque e esqueceram que o povo não pode enfrentar sozinho batalha tão desigual.

Os generais da oposição não querem mais que o povo tenha leite, não querem que as crianças tenham fardas, não querem o peixe nas panelas das populações empobrecidas, não querem as avenidas iluminadas, asfaltadas, recuperadas, os canais de lama e fedentina vencidos. Só querem vencer, mesmo que seja aliados àqueles que tinham a obrigação de derrotar.

Mas o guerreiro solitário sabe que é preciso enfrentar o Império, que é preciso por fim a esse regime dinástico, enfrentar as armas da oligarquia e acabar de uma vez por todas com esse longo reinado de opressão.