domingo, 4 de novembro de 2012

A pulga atrás da orelha

Editorial, Jornal Pequeno, 4 de novembro

Parece-nos de certa forma inquisitória a equipe formada pelo prefeito eleito Edivaldo Holanda Júnior para montar a transição de governo, a ocorrer nos próximos dois meses. À parte os objetivos delineados até agora, como coleta de informações e diagnóstico dos trabalhos da atual administração, perfeitamente normais a qualquer tempo, a equipe tem auditores de mais e políticos e outros técnicos de menos.
O perfil técnico do secretariado, pretensão anunciada pelo prefeito eleito, não exime o fato de que essa é uma gestão cujo sistema nervoso só funciona a partir de políticas públicas. Trate-se embora, de uma equipe de transição, ela é, por assim dizer, um primeiro ato administrativo, uma primeira manifestação de intenções dos que vão ocupar o poder. Mesmo sendo preciso reconhecer que às equipes de transição cabe mais a função de preparar o terreno que de colher os frutos, o cheiro de matemática financeira desta equipe de Edivaldo Holanda Júnior indica a possibilidade real de que ele pretende fuçar as contas de seu antecessor.
A maior parte da equipe é constituída de auditores, especialistas em auditagens de contas públicas como Felipe Camarão, Wellington Rezende, Bernardo Rodrigues e Guedelha, Não há nada neles que indique planejamentos essenciais na estrutura municipal, uma percepção político-administrativa de áreas sensíveis como cultura, saúde e educação. Não que a equipe revele, em princípio, qualidades nocivas ao atual prefeito mas, embora com alguma dignidade, pela própria natureza de suas atividades, passam mais a impressão de que pretendem fazer um rastreamento na atual administração que propor um modo novo de governar.
Os levantamentos propostos, dos recursos humanos, de material e patrimônio, de finanças e planejamento, de questões jurídicas e contratos, de obras e políticas sociais revelam, de forma subliminar, primeiro a abertura para um planejamento global da administração, o que é extremamente positivo; mas deixam à solta, se não a possibilidade de uma auditagem na Prefeitura, uma sensação inquisitorial, uma incômoda pulga aos pulos atrás da orelha. Principalmente quando avaliamos algumas declarações do vice-prefeito Roberto Rocha, que preside a comissão de transição: “os relatórios devem traçar um apanhado da estrutura econômica, financeira e contratual da Prefeitura de São Luís”. Ou quando se apressa em informar que não há intenção de promover auditorias. De qualquer modo, sente-se falta de referências à futura administração; toda a logística da comissão de transição parece estar restrita à administração que deixa a Prefeitura.
Vá lá que sejam especificamente de cunho administrativo as intenções do poder em sucessão. Mas os ruídos de estranheza não partem apenas dos analistas políticos. Ninguém menos que o presidente do Tribunal de Contas do Estado, Edmar Cutrim, declarou sobre a presença exagerada de auditores e controladores fiscais na comissão de transição: “Não é ilegal, mas não seria de bom tom funcionário de controle externo atuar em equipe política”. Parece que ele também está com a pulga atrás da orelha.

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