Editorial, Jornal Pequeno, 4 de novembro
Parece-nos de certa forma inquisitória a equipe
formada pelo prefeito eleito Edivaldo Holanda Júnior para montar a transição de
governo, a ocorrer nos próximos dois meses. À parte os objetivos delineados até
agora, como coleta de informações e diagnóstico dos trabalhos da atual
administração, perfeitamente normais a qualquer tempo, a equipe tem auditores
de mais e políticos e outros técnicos de menos.
O perfil técnico do secretariado, pretensão
anunciada pelo prefeito eleito, não exime o fato de que essa é uma gestão cujo
sistema nervoso só funciona a partir de políticas públicas. Trate-se embora, de
uma equipe de transição, ela é, por assim dizer, um primeiro ato
administrativo, uma primeira manifestação de intenções dos que vão ocupar o
poder. Mesmo sendo preciso reconhecer que às equipes de transição cabe mais a
função de preparar o terreno que de colher os frutos, o cheiro de matemática
financeira desta equipe de Edivaldo Holanda Júnior indica a possibilidade real
de que ele pretende fuçar as contas de seu antecessor.
A maior parte da equipe é constituída de auditores,
especialistas em auditagens de contas públicas como Felipe Camarão, Wellington
Rezende, Bernardo Rodrigues e Guedelha, Não há nada neles que indique
planejamentos essenciais na estrutura municipal, uma percepção
político-administrativa de áreas sensíveis como cultura, saúde e educação. Não
que a equipe revele, em princípio, qualidades nocivas ao atual prefeito mas,
embora com alguma dignidade, pela própria natureza de suas atividades, passam
mais a impressão de que pretendem fazer um rastreamento na atual administração
que propor um modo novo de governar.
Os levantamentos propostos, dos recursos humanos,
de material e patrimônio, de finanças e planejamento, de questões jurídicas e
contratos, de obras e políticas sociais revelam, de forma subliminar, primeiro
a abertura para um planejamento global da administração, o que é extremamente
positivo; mas deixam à solta, se não a possibilidade de uma auditagem na
Prefeitura, uma sensação inquisitorial, uma incômoda pulga aos pulos atrás da
orelha. Principalmente quando avaliamos algumas declarações do vice-prefeito
Roberto Rocha, que preside a comissão de transição: “os relatórios devem traçar
um apanhado da estrutura econômica, financeira e contratual da Prefeitura de
São Luís”. Ou quando se apressa em informar que não há intenção de promover
auditorias. De qualquer modo, sente-se falta de referências à futura
administração; toda a logística da comissão de transição parece estar restrita
à administração que deixa a Prefeitura.
Vá lá que sejam especificamente de cunho
administrativo as intenções do poder em sucessão. Mas os ruídos de estranheza
não partem apenas dos analistas políticos. Ninguém menos que o presidente do
Tribunal de Contas do Estado, Edmar Cutrim, declarou sobre a presença exagerada
de auditores e controladores fiscais na comissão de transição: “Não é ilegal,
mas não seria de bom tom funcionário de controle externo atuar em equipe
política”. Parece que ele também está com a pulga atrás da orelha.
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