Bonito

JM Cunha Santos

Em “Bonito”, Larissa, o sol fica mais tempo no mundo, as cachoeiras caem na direção do céu. Queria mostrar este lugar a teu corpo inanimado e à tua alma em permanente revolução. Queria que visses os tucanos gemendo, os canários orando, esse tipo de natureza que não mente jamais. Queria não ter te dado o primeiro gole do meu suor, o último de sofrimento.

Saiba disso: sempre que eu não estiver ocupado em cometer algum crime, estarei no centro do teu destino, não importa quanto veneno tenha que engolir. Sempre que teus olhos encontrarem uma pessoa que não foi terminada, serei eu procurando a direção do teu olhar e te limparei dessa sujeira de minha escravidão.

Não importa a quantos partos fui submetido, nada mais nascerá de mim além de teus movimentos. Saiba disso: sempre que eu não estiver batendo em Deus, estarei abrindo portas, rompendo rezas, complicando almas em favor de tua recuperação. Eu sei dar sol, eu consigo.

Aqui, entre anjos encantados e solitários perseguidos, a natureza se impõe acima de todas as favelas e metrópoles, porque tudo é feito dos cacos de Deus. Mas não estás aqui, se resides entre os que não foram perdoados por nada fazer. És a permanência inevitável do meu cérebro, o lugar, hoje, de todos os meus deveres, de todos os meus acessos; és onde que reclamo contra o sol e todas as águas à minha volta. Ah, a vontade de ser parte do teu corpo me aniquila, enquanto suporto nos ouvidos o conselho de ter fé.

Saiba disso: nenhuma canção mais será feita sem teu nome; nenhuma prece mais será rezada sem tua presença; nada no mundo acontecerá sem um pedido teu. Porque te disse: um pai também morre de parto, eu te peço: morre só essa vez filhinha; por favor não morre mais.