JM Cunha Santos
Depois
do Bolsa Novela não me parece incoerente, ou inconsistente, que o Governo
Federal institua o Bolsa Poesia, com direito a projeto de lei aprovado no
Congresso Nacional obrigando os beneficiários a gastarem com versos a renda
transferida para se apropriarem das emoções dos poetas. Seria uma felicidade!
Já imaginou, toda essa galera do Bolsa Família sendo obrigada a pagar para ler
os versos ruins que escrevo. O lucro das emoções, finalmente, depois de tanto
sofrimento!
Difícil
vai ser abandonar a poesia analógica, assim como a ilógica; difícil vai ser
estipular multas em emoções para quem não ler, por exemplo, “O Sentimento do
Mundo” de Carlos Drummond de Andrade. E mais difícil ainda vai ser multar quem
não entender. Daí até o Bolsa Big Brother e o Bolsa Ana Maria Braga, a
distância é muito pequena, mas vale tudo na era digital.
É
apenas uma idéia, mas já dá para ver o inferno erótico dos homens invadindo as
auroras de todas as vidas. TV digital para todos, poesia digital para todos,
novelas e novelões e haja Bombril nas antenas dos sentimentos humanos. E não
deixa de ser uma grande jogada eleitoral, pois aliando o Bolsa Novela ao Bolsa
Poesia o governo vai mexer na freqüência emocional de todo mundo, mudar a faixa
de sintonia dos corações. Será o fim de todos os protestos, todas as decepções,
posto que estaremos inteiramente interligados ao conversor de erros
governamentais.
E
imaginem só os efeitos colaterais dessa bolsa de emoções: a briga de Virgílio e
Homero contra Elizabeth Jhin e Sílvio de Abreu, de Pablo Neruda e Baudelaire
contra Emanuel Carneiro e Glória Perez, se encontrando no coração de um mesmo
povo que mal conseguiu resistir às pressões do carnaval. Um verso, um verso só,
digital e profético se espalhando nos ouvidos com a mesma proficiência do “Delícia,
delícia, assim você me mata”. Que delícia! Como é delicioso governar o Brasil!
Nenhum comentário:
Postar um comentário