terça-feira, 2 de abril de 2013

A fadiga

Editorial JP, 2 de março

Um polvo com mais tentáculos que o corpo pode suportar. Assim pode ser definido hoje o sarneisismo, modelo político que se sustenta no poder a quase 50 anos e contra o qual, historicamente, todas as investidas da oposição foram até agora inúteis. Esses tentáculos invadiram a Assembléia, a Câmara Federal e o Senado, os tribunais, as câmaras de vereadores todas do Estado e criaram limo nas Prefeituras do Maranhão.
Começou a dar os primeiros sinais de fadiga com a eleição de Jackson Lago, mas recompôs-se usando os braços fincados em Brasília para manter nos dentes sua presa preferencial, o Estado do Maranhão. A partir daí vem se realimentando e a cada movimento livrando-se dos predadores que ameaçam tomar o poder. Nestes anos todos, denúncias de corrupção e fraude abalaram, mas não conseguiram desmontar a autoridade física de um modelo político ramificado em todas as instâncias de poder e que até aqui se mantêm intocável.
Os novos sinais de fadiga são sentidos principalmente na predisposição do povo maranhense de livrar-se dos tentáculos do sarneisismo. É o eleitor que está cansado das vitórias e manobras do sarneisismo, o que restou demonstrado, recentemente, em pesquisa que coloca o Dr. Flávio Dino, principal adversário do regime, com impressionantes 58% dos votos a quase dois anos da eleição. Outros sinais se acumulam dentro do próprio governo. Quase meio século depois, o poder se exauriu e correntes políticas adversas se formam dentro do cansado sistema político de cooptação. O nome Sarney provoca coceiras no eleitor. O nome Lobão soa diferente, mas tem o mesmo efeito de um ataque de pulgas. O nome João Alberto causa a mesma sensação de formigamento. Por isso escolheram Luis Fernando, um Silva, na tentativa de evitar que a fadiga do eleitor não provoque cãibras incontornáveis nos braços do polvo.
O poder se exauriu a ponto de uma vaga no Tribunal de Contas do Estado ser a única solução disponível para que PT e PMDB, principais partidos da aliança que sustenta Roseana Sarney, não se esfolem pela cadeira Nº 1 do Palácio dos Leões, no caso da governadora concorrer a qualquer cargo.
A linha sucessória no Maranhão é um verdadeiro Enigma da Esfinge, no melhor estilo “decifra-me ou devoro-te” e muitas são as especulações em torno de quem sentará na cadeira da filha de Sarney no interregno entre as candidaturas e a posse. Talvez Washington Oliveira, talvez Arnaldo Melo, talvez o presidente do Tribunal de Justiça, talvez Max Barros, talvez ninguém. Talvez, talvez...
E esse é mais um sinal de fadiga no centro do poder. Roseana Sarney não parece confiar em qualquer um para substituí-la enquanto concorre ao Senado e não consegue unir seus aliados em torno do nome de Luís Fernando Silva. O velho Sarney tem dúvidas entre Lobão e João Alberto e dentro do processo sucessório Roseana ainda pode permanecer no governo até o final. A Esfinge permanece incólume, como demônio de destruição e má sorte, fazendo perguntas que ninguém consegue responder. Mas talvez que surja na oposição algum Édipo capaz de decifrar.

Um comentário:

  1. Quando falo que seus artigos são maravilhosos e atingem a questão em seu âmago, digo de coração por que sou seu admirador e por que tens uma mente brilhante e a capacidade de falar diretamente em nomes que são proibidos falar, pois os mesmos, se consideram donos do ARANHÃO.

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