Editorial
JP, 20 de abril
A
televisão é um veículo de comunicação absurdamente perigoso, instalado nas
salas de nossas residências, quase com vontade própria, posto que a programação
é decidida ao sabor de interesses comercias, empresariais e políticos. Se
manipulada corretamente, essa máquina pode alienar multidões, deformar a
opinião pública, mentir, esconder intenções rasteiras, criar ídolos de pés de
barro e vilanizar moralmente a quem interessar possa.
A
classe quase média que ainda toma café nas feiras e barracos, que ainda aprecia
um bolo de milho caseiro, um cuscus e um beiju, está ouvindo o diabo da boca do
povo sobre os deputados maranhenses depois que o Sistema Mirante de Comunicação,
com auxílio da Rede Globo, divulgou matéria sobre o aumento nas ajudas de custo
dos deputados. Só falam nas 18 casas do deputado Manoel Ribeiro e os mais
inteligentes dizem que os reajustes podem ser legais, mas são imorais.
As
comparações com a miséria e os salários do povo são inevitáveis. A expressão
menos ofensiva que se ouve é que não passam todos os deputados de “um bando de
vagabundos que não trabalha”. A precisa imagem que quis e logrou construir o
Sistema Mirante sobre os deputados do Maranhão.
Não
sabem que por trás dessa matéria está o interesse do grupo Sarney em manter sob
controle os bilhões do Estado e que esse auxílio moradia nada representa diante
da fortuna incalculável enfurnada nos cofres públicos cujo controle o grupo
Sarney não pretende perder. Não sabem que isso é troco para um governo que
transfere mais dinheiro para o Sistema Mirante de Comunicação, de propriedade
da governadora Roseana Sarney, que para a Agricultura e, sabe Deus, para o
próprio Sistema de Segurança Pública Estadual.
A
impressão que ficou é que cada habitante de São Luís assistiu ao heróico “furo
de reportagem de uma imprensa séria e comprometida com os valores éticos da
democracia e com a honestidade no trato da coisa pública”. E com direito a
imagens e entrevistas que fazem isto real. É terrível. A máquina na sala de
nossas casas “vazou” os cérebros de uma forma tal que se houvesse hoje uma
eleição para governador ninguém se arriscaria a votar num deputado estadual do
Maranhão. A mesma TV que foi utilizada para dividir a oposição no período
pré-eleitoral, vigiando e desconstruindo par e passo a administração João
Castelo, e que hoje vigia 24 horas por dia a administração Holanda Júnior, em
cada rua, cada escola, cada prédio público, cada documento assinado, proposta e
projeto, se voltou contra a Assembléia Legislativa a dois dias atrás.
Nos
cafés da feira percebe-se que o governo conseguiu o que queria. Afinal, estamos
diante de uma máquina de fritar cérebros super poderosa. Calcula-se que existem
mais televisões que fogões e geladeiras nas residências do país; mais de 98%
dos lares possuem uma ou mais televisões. O mais grave é que para a grande
maioria a televisão é a única fonte de informação e é disso que se vale o
governo. O
problema é tão sério que existe uma pesquisa
indicando que 44% das crianças que assistem TV não sabem mais diferenciar a
vida real da vida virtual. Sob o controle de políticos, esse é um poder
imensurável, supra-humano, talvez só comparável ao dos semideuses. A Assembléia
do Maranhão sentiu contra ela o peso e a fúria desse poder agora. E não pode
fazer nada. Se reagir, vai ser bem pior. Um beiju de feira para Roseana. Ela
conseguiu mais uma vez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário