Editorial
JP 19 de junho
Durante
anos seguidos a juventude brasileira conviveu e enfrentou uma ditadura militar.
O país era o território do medo. Estudantes eram vigiados nas universidades e
nas escolas, a censura cassava o direito à livre manifestação de opinião, a
organização partidária era apenas concedida pelos fuzis e administradores e
autoridades licenciados pelas metralhadoras. Qualquer reunião com mais de 20
pessoas podia ser considerada um ato manifesto de subversão à ordem pública,
lideranças foram colocadas no exílio ou simplesmente desapareceram no trajeto
entre suas casas e o direito de viver.
Para
que isso fosse possível, uma polícia política atuava nas instituições públicas,
nas repartições públicas, nas escolas, nos estaleiros, nas fábricas e uma
terrível comunidade de informação era capaz de destruir a vida de qualquer um a
qualquer momento. Dá até para lembrar o poema de Afonso Romano de Santana:
“Desaparecia-se. Desaparecia-se muito naqueles dias/... Culpado ou não, sumia-se”.
Nos
estertores desses dias terríveis nasceu o Partido dos Trabalhadores levando ás
praças todos os protestos de uma geração que não conseguia mais calar. E
têm-se, tantos anos depois, a notícia de que agentes da Abin disfarçados foram
presos por ato de espionagem contra o presumível candidato a presidente da
República e governador de Pernambuco, Eduardo Campos porque ele se mostra capaz
de invadir a seara eleitoral do PT no Nordeste. Entre tantos atos
discricionários cometidos pelo PT, como o de tentar impor uma censura velada à
imprensa, é este um dos mais preocupantes. Por ser provável que não apenas
Eduardo Campos, mas todas as lideranças e organizações políticas contrárias ao
governo estejam sendo vigiadas. Porque podemos crer, a partir dessa crise
institucional abafada, na formação de uma nova polícia política no país, agora
sob controle dos herdeiros do horroroso Serviço Nacional de Informação, o SNI
que durante tanto tempo alimentou as câmeras de tortura da ditadura militar.
Vivemos
hoje a aventura da liberdade e essa, mesmo que seja uma manifestação isolada, é
sim uma manifestação contra a livre organização política de um povo. O governo
foi ao porto monitorar adversários do governo, medir possibilidades de greves,
vigiar sindicatos. Voltamos à época da investigação clandestina, dos grampos
ilegais, do monitoramento de sindicatos, lideranças políticas e autoridades.
Talvez não falte muito para voltar à época dos desaparecimentos.
A
simples idéia do ressurgimento de uma polícia política classificando o grau de
periculosidade de cidadãos inocentes para o estado é aterradora. A simples
idéia de uma nova geração confinada mentalmente aos códigos de educação moral e
cívica, sem expressão política, assusta mais ainda. O caminho que toma o
governo do PT espionando adversários políticos é perigoso para a Nação e
desastroso para aqueles que aprenderam a amar a liberdade.
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