quarta-feira, 19 de junho de 2013

Polícia política

Editorial JP 19 de junho

Durante anos seguidos a juventude brasileira conviveu e enfrentou uma ditadura militar. O país era o território do medo. Estudantes eram vigiados nas universidades e nas escolas, a censura cassava o direito à livre manifestação de opinião, a organização partidária era apenas concedida pelos fuzis e administradores e autoridades licenciados pelas metralhadoras. Qualquer reunião com mais de 20 pessoas podia ser considerada um ato manifesto de subversão à ordem pública, lideranças foram colocadas no exílio ou simplesmente desapareceram no trajeto entre suas casas e o direito de viver.
Para que isso fosse possível, uma polícia política atuava nas instituições públicas, nas repartições públicas, nas escolas, nos estaleiros, nas fábricas e uma terrível comunidade de informação era capaz de destruir a vida de qualquer um a qualquer momento. Dá até para lembrar o poema de Afonso Romano de Santana: “Desaparecia-se. Desaparecia-se muito naqueles dias/... Culpado ou não, sumia-se”.
Nos estertores desses dias terríveis nasceu o Partido dos Trabalhadores levando ás praças todos os protestos de uma geração que não conseguia mais calar. E têm-se, tantos anos depois, a notícia de que agentes da Abin disfarçados foram presos por ato de espionagem contra o presumível candidato a presidente da República e governador de Pernambuco, Eduardo Campos porque ele se mostra capaz de invadir a seara eleitoral do PT no Nordeste. Entre tantos atos discricionários cometidos pelo PT, como o de tentar impor uma censura velada à imprensa, é este um dos mais preocupantes. Por ser provável que não apenas Eduardo Campos, mas todas as lideranças e organizações políticas contrárias ao governo estejam sendo vigiadas. Porque podemos crer, a partir dessa crise institucional abafada, na formação de uma nova polícia política no país, agora sob controle dos herdeiros do horroroso Serviço Nacional de Informação, o SNI que durante tanto tempo alimentou as câmeras de tortura da ditadura militar.
Vivemos hoje a aventura da liberdade e essa, mesmo que seja uma manifestação isolada, é sim uma manifestação contra a livre organização política de um povo. O governo foi ao porto monitorar adversários do governo, medir possibilidades de greves, vigiar sindicatos. Voltamos à época da investigação clandestina, dos grampos ilegais, do monitoramento de sindicatos, lideranças políticas e autoridades. Talvez não falte muito para voltar à época dos desaparecimentos.
A simples idéia do ressurgimento de uma polícia política classificando o grau de periculosidade de cidadãos inocentes para o estado é aterradora. A simples idéia de uma nova geração confinada mentalmente aos códigos de educação moral e cívica, sem expressão política, assusta mais ainda. O caminho que toma o governo do PT espionando adversários políticos é perigoso para a Nação e desastroso para aqueles que aprenderam a amar a liberdade.

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