Editorial
JP, 5 de junho
Conforme
o dicionário, trecho é a porção de um todo; parte. Significa também espaço de
tempo ou de lugar; intervalo. E vem o líder da oposição, deputado Rubens
Júnior, provavelmente por desconhecimento gramatical e semântico, querer cobrar
do governo a localização de uma obra num lugar chamado Trechos, assim mesmo no
plural, o que é pior.
Ora,
trecho é trecho e pode ser de qualquer lugar, não tem localização definida.
Pode ser num trecho da Ilha de Curupu, num trecho do município de Pinheiro ou
num trecho da capital do país, Brasília. Só é preciso procurar. E para
complicar ainda mais pode ser que trechos da mesma obra tenham sido construídos
em trechos diferentes do Brasil. O convênio firmado entre a Secretaria de Desenvolvimento
Social e um tal Grupo de Ação Social Vera Macieira, no valor de R$ 5 milhões
arredondados, prevê a execução de melhorias no acesso do povoado Trechos, na
Raposa. A explicação pode ser essa, já que acesso também é trecho e trechos
geralmente servem de acesso.
A
oposição gosta mesmo de complicar as coisas. O líder Rubens Júnior fala que
pelo menos R$ 700 mil desse convênio sumiram, pois foram pagos às empresas
responsáveis pela “execução de melhorias” (o que será que quer dizer isso?)
apenas R$ 4,2 milhões de R$ 4.9 milhões contratados. Em que trecho do Estado o
dinheiro desapareceu o líder do governo não sabe dizer. E não sabe também em
que trecho do país fica a sede do Grupo de Ação Social Vera Macieira, mesmo
tendo conhecimento de três endereços distintos.
Mas
há um trecho ainda mais complicado dessa burlesca novela. O convênio não foi
divulgado em nenhum trecho do Diário Oficial, em trecho nenhum do Portal da
Transparência, por mais transparente que ele seja. Dá até para imaginar o
enunciado do convênio: “Trecho de um contrato que entre si celebram a
Secretaria de Desenvolvimento Social e o Grupo de Ação Social Vera Macieira
para execução de melhoria de um trecho que dá acesso ao povoado Trechos.
Parágrafo Único: Fica proibida a divulgação de qualquer trecho desse contrato
em qualquer trecho de qualquer documento oficial”.
Mas
tudo isso parece muito normal num Estado em que estradas inteiras costumam
desaparecer do mapa, como a famosa Arame - Paulo Ramos e a menos famosa Coroatá
- Vargem Grande. Se estradas inteiras sumiram, qual é a intenção do líder da
oposição ao reclamar de um simples trecho ou acesso a um lugar chamado Trecho
que ninguém consegue localizar? E se não conseguem encontrar o povoado, como
querem encontrar uma associação provavelmente localizada em algum trecho desse
misterioso povoado?
E
há um trecho do discurso do deputado Rubens Júnior que não pode ser levado a
sério. É quando diz que tudo nos leva a crer que nada foi feito. Foi sim.
Talvez não no trecho acertado no convênio, mas a obra, o povoado e o Grupo de
Ação Social Vera Macieira devem existir em algum lugar. Ou trecho do país.
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