quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Do impacto social

Editorial JP, 21 de agosto

Citou a deputada Cleide Coutinho em discurso na Assembléia, o majestoso filósofo Jean Jacques Rousseau, autor de “Do contrato social”, talvez a mais deslumbrante obra política já escrita para a democracia. Ela comentava o desempenho do candidato Flávio Dino nas pesquisas de opinião e não esqueceu do “Vox populi vox dei” (A voz do povo é a voz de Deus), que teria servido como tema do livro,
Mas Rousseau com sua teoria do bom selvagem satanizado pela vida em sociedade, mexe com os nervos e nos faz pensar sobre as relações de poder no Brasil e, em particular, no Maranhão. Porque se “O contrato social” levou a Revolução Francesa a proclamar o direito sagrado do povo se rebelar contra a tirania do monarca, os regimes democráticos em grande parte do mundo foram tão mistificados que os novos monarcas, mesmo fora de reinados, sempre encontram formas e fórmulas de manterem o poder indefinidamente.
Quis Rousseau organizar os princípios do direito político; se conseguiu ou não, é o que menos importa aqui. Mas ele julgava que o homem é naturalmente bom, sendo a sociedade, instituição regida pela política, a culpada pela degeneração do homem. “O homem nasce livre e por toda a parte está acorrentado”, disse o filósofo verberando contra a escravidão, contra a invenção dos delitos de opinião, contra o sermos forçados a parecer o que não somos em virtude das exigências da vida em sociedade.
Aqui paramos de teorizar porque é impossível discutir Rousseau num editorial. Mas é possível dizer que esse contrato social, nos nossos dias, séculos depois, é uma tremenda empulhação, que o regime democrático não conseguiu acabar com a fome e a miséria moral, que o dinheiro continua comprando o poder e que continuam muitos julgando que os senhores são divinos e os súditos animais. E animais com fome. De alimentação, educação, de saúde, de cidadania e de dignidade.
Estamos em pleno século 21 e o inconcebível ainda acontece no Maranhão. Uma família no poder, qualquer família, por quase 50 anos, é monarquia e, se levada em consideração a alternância de poder que ocorre hoje em todo o mundo, excede à própria monarquia. Como isso foi possível, é outra história, mas o fato é que a própria teoria dos três poderes vai para as cucuias porque todos eles, executivo, legislativo e judiciário estão tão entranhados, contaminados, por esse modelo político que será necessária uma verdadeira revolução para operar algum tipo de mudança na cultura política do Estado.
O próprio Rousseau dizia que uma revolução não se faz com leite de rosas. O impacto social desse exercício frenético, constante e intermitente do poder é arrasador e o calamitoso Índice de Desenvolvimento Humano do Maranhão mostra bem essa realidade que alija a maioria dos maranhenses do contrato social e coloca no impacto social. Mas como explicar isso a uma população de empobrecidos, inocentes e analfabetos liderada por uma legião de aproveitadores?  
 

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