Editorial
JP, 21 de agosto
Citou
a deputada Cleide Coutinho em discurso na Assembléia, o majestoso filósofo Jean
Jacques Rousseau, autor de “Do contrato social”, talvez a mais deslumbrante
obra política já escrita para a democracia. Ela comentava o desempenho do
candidato Flávio Dino nas pesquisas de opinião e não esqueceu do “Vox populi
vox dei” (A voz do povo é a voz de Deus), que teria servido como tema do livro,
Mas
Rousseau com sua teoria do bom selvagem satanizado pela vida em sociedade, mexe
com os nervos e nos faz pensar sobre as relações de poder no Brasil e, em
particular, no Maranhão. Porque se “O contrato social” levou a Revolução
Francesa a proclamar o direito sagrado do povo se rebelar contra a tirania do
monarca, os regimes democráticos em grande parte do mundo foram tão
mistificados que os novos monarcas, mesmo fora de reinados, sempre encontram
formas e fórmulas de manterem o poder indefinidamente.
Quis
Rousseau organizar os princípios do direito político; se conseguiu ou não, é o
que menos importa aqui. Mas ele julgava que o homem é naturalmente bom, sendo a
sociedade, instituição regida pela política, a culpada pela degeneração do
homem. “O homem nasce livre e por toda a parte está acorrentado”, disse o
filósofo verberando contra a escravidão, contra a invenção dos delitos de
opinião, contra o sermos forçados a parecer o que não somos em virtude das
exigências da vida em sociedade.
Aqui
paramos de teorizar porque é impossível discutir Rousseau num editorial. Mas é
possível dizer que esse contrato social, nos nossos dias, séculos depois, é uma
tremenda empulhação, que o regime democrático não conseguiu acabar com a fome e
a miséria moral, que o dinheiro continua comprando o poder e que continuam
muitos julgando que os senhores são divinos e os súditos animais. E animais com
fome. De alimentação, educação, de saúde, de cidadania e de dignidade.
Estamos
em pleno século 21 e o inconcebível ainda acontece no Maranhão. Uma família no
poder, qualquer família, por quase 50 anos, é monarquia e, se levada em
consideração a alternância de poder que ocorre hoje em todo o mundo, excede à
própria monarquia. Como isso foi possível, é outra história, mas o fato é que a
própria teoria dos três poderes vai para as cucuias porque todos eles,
executivo, legislativo e judiciário estão tão entranhados, contaminados, por
esse modelo político que será necessária uma verdadeira revolução para operar
algum tipo de mudança na cultura política do Estado.
O
próprio Rousseau dizia que uma revolução não se faz com leite de rosas. O
impacto social desse exercício frenético, constante e intermitente do poder é
arrasador e o calamitoso Índice de Desenvolvimento Humano do Maranhão mostra
bem essa realidade que alija a maioria dos maranhenses do contrato social e
coloca no impacto social. Mas como explicar isso a uma população de
empobrecidos, inocentes e analfabetos liderada por uma legião de
aproveitadores?
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