Informe JP, 17 de fevereiro
Não foi esse o grito que acordou o Brasil para o fato de que vivíamos
uma ditadura e que os direitos do povo, inclusive e principalmente o de
escolher seus representantes, estavam sendo solapados por atos institucionais
que brutalizavam a democracia. Não foi esse, muito pelo contrário. O tempo dos
prefeitos nomeados, dos governadores e senadores biônicos se foi, deixando para
trás uma história de luta e coragem cívica do povo brasileiro.
A campanha das “Diretas já” reacendeu o nativismo do povo brasileiro e
antes que fosse possível engordar a legislação com mais leis casuística o povo
estava nas cabines eleitorais dando uma inesquecível lição de democracia. Isto
posto pergunta-se como 30 anos depois o Maranhão legisla o casuísmo de uma
eleição indireta que só pretende que o candidato do governo dispute o cargo no
exercício do mandato de governador.
“Indiretas já” é um grito que vem dos paços governamentais, é uma
confissão de culpa, um atentado aos postulados da liberdade conquistada a ferro
e fogo pelo povo brasileiro. “Indiretas já” para tornar mais fácil a cooptação,
para restringir direitos e promover desigualdades na disputa eleitoral.
“Indiretas já” no universo minimalista de 42 eleitores que substituem 4
milhões;uma sutil aposta na compra de votos, no cerceamento de consciências.
Cercam-se os políticos de um poder imensurável, pois o valor
incalculável desses votos será pago com restrições ao direito do povo de votar
livremente. O inalienável direito de escolha dos governantes que só o regime
democrático confere à população. Se é legal que seja, mas é imoral e engorda.
Engorda inclusive contas bancárias, podem apostar.
Mas esse novo grito, “Indiretas já”, que desrespeita a História, ecoa
nas paredes das instituições públicas vilipendiadas até mesmo pelo desmonte da
linha sucessória que a Constituição Federal garantiu. Todos estão sendo
afastados, substituídos para que o governo sacramente sua vontade de permanecer
indefinidamente governo. Sem meias palavras, o que intentam é quase uma
nomeação.
“Indiretas já”, espanta-se o povo, quedam-se os advogados, admiram-se
impotentes os juízes, protesta o Ministério Público, reclamam sem esperanças os
jornalistas, danam-se os historiadores, arrepiam-se os tribunais. É como uma
nova ordem; uma que não é a mesma dos últimos séculos, uma que não está
escrita, que foi apenas pensada e enfiada goela abaixo da civilização.
“Indiretas já”, para que se garanta o confisco da vontade popular, para
sublimar o julgamento de um povo submetido ao abuso de poder político e
econômico, e fazer valer a vontade que mais uma vez se fará absoluta dos donos
do poder. “Indiretas já” para que nas eleições diretas aconteça única e
exclusivamente o que o governo quer.
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