JM Cunha Santos
No calor de uma ilha não caribenha, assanham-se os piratas, exibindo
barbas e cabelos que são cobras vivas, em protesto contra a retirada ecológica
de outro pirata das marés litorâneas e seu navio que oFUSCAva o ambiente.
Empunham os arcabuzes e apontam os canhões contra o prefeito do lugar. As redes
jogadas ao mar, que antes capturavam lagostas para o repasto dos capitães dos
navios, estão agora cheias de tubarões ferozes a confirmar que piratas protegem
piratas, independente da atividade no piratear.
O pirata pivô de toda a refrega é um pobre homem, artista de rua, que
cantava em seu violão desafinado os valores do mar. Mas os piratas em sua
defesa acumularam tesouros roubados e tomados dos valores dos ilhéus ou
capturados em outras marés do país. Piratas modernos, com doutorado em desvio
de verbas públicas, especialistas em fraudar licitações, saquear estatais,
superfaturar obras, comprar eleições, eles usam o pirata velho, de cabelos
velhos para jogar a população contra o prefeito do lugar.
Deixam-no, porém, ao velho pirata, desprotegido. Só o querem como
notícia, como bode expiatório de uma batalha que estão ameaçados de perder. Se
seus arcabuzes falham, se seus canhões emperram e seus tesouros já não bastam
para comprar a vontade da população, usam o pirata dentro do fusca como bucha
de canhão, na vontade de manter o domínio sobre os moradores da Ilha, que não é
nenhum paraíso fiscal, e no medo de perder o imenso território ao derredor.
Não querem os piratas protetores perder os banheiros de ouro que construíram
ninguém sabe onde; não querem o sacrifício de suas lagostas, champanhes, vinhos
importados e camarões gratinados. Na verdade, eles nem gostam do pirata velho,
do pirata pobre que vende ilusões à beira-mar. Ele, afinal, é também uma ameaça
ao império da pirataria política que durante mais de 40 anos exacerbou o
analfabetismo, a miséria, o desemprego, a violência e a corrupção. E são eles,
os piratas modernos, responsáveis se o pirata velho e pobre e quase todos
aqueles que piratearam não têm sequer onde morar.
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