Edinho Lobão, o dinheiro do câncer, a empregada doméstica e a leitura do inacreditável

JM Cunha Santos



Nesta Casa, um projeto de Edinho, em plena campanha eleitoral, contra a corrupção.

À espera de mais um processo, mas como sempre sem um centavo nos bolsos, sento-me diante do computador e sou obrigado a ler o inacreditável: Edinho Lobão apresentou no Senado um projeto que pune a corrupção com mais rigor. E as perguntas se tornam inevitáveis: Ele está querendo ir pra cadeia, decretar sua própria prisão, complicar de uma vez por todas o governo Roseana Sarney?   

Reflito que talvez seja apenas para se livrar de Raimundo Monteiro e da cúpula do PT no Maranhão, mas concluo que não é mais necessário, que Dilma Roussef e o TCU já se encarregaram de detetizar esses carrapatos. Mas a verdade é que nada de tão estranho aconteceu no Maranhão nos últimos dois séculos. Pode, entretanto, ser só estafa de quem, não estando acostumado a trabalhar, se envolveu em desgastante campanha eleitoral, pois não consigo ver outra explicação.

Não bastasse a fobia à liberdade de imprensa, a vontade de impor ao povo o que ele pode ler, ver, ouvir e, se deixarem, até o que pode pensar, descobre-se em Edinho Lobão, com esse projeto, uma reversão da claustrofobia, um estranho desejo de se limitar a espaços determinados, de encarcerar a si mesmo. E juro que já pensei até em encaminhar meus textos, antes de serem postados, à coordenação da campanha de Edinho, para que eles decidam o que pode ser publicado ou não. E sugiro ao senador José Sarney, tão ou mais competente que seu candidato em matéria de censura, que, nos estertores de sua carreira política, com o auxílio inevitável de Lula, apresente no Senado um projeto de lei pondo fim ao espírito crítico no Maranhão. Para sua glorificação definitiva como jornalista e escritor.

Mas eu me perdi. Voltemos à leitura do inacreditável. Edinho foi condenado a prisão por fraude, conforme reconheceu o Ministério Público Eleitoral, foi acusado pela imprensa e pelo Ministério Público de aplicar um golpe milionário em sua empregada doméstica, acaba de ser flagrado consumindo dinheiro do câncer, é apoiado por um governo que recebeu consultoria de um doleiro que provavelmente nunca vai sair da  cadeia e, no entanto, posa de paladino da luta contra a corrupção. Isso, além de tudo, é traição contra a categoria, coisa que os sindicatos não costumam suportar.

É estranho, é muito estranho, é inacreditável, é mais difícil de engolir que a vitória da Alemanha sobre o Brasil por 7 a 1.