A
presença mais sentida no Maranhão, hoje, é a presença da polícia.
Editorial
JP, 26 de agosto
A
terra é o Maranhão. O Estado é o Maranhão. Lugar de poetas e artistas, dono de
riquezas naturais, como os Lençóis de Barreirinhas, que estão entre as mais
belas do mundo. Talvez esteja aqui a maior diversidade cultural do país:
Bumba-boi, tambor de crioula, cacuriá,
quadrilhas, carnaval, teatro, dança. E pertence a São Luís, capital do
Maranhão, um dos mais admiráveis acervos arquitetônicos coloniais entre todas
as cidades do mundo.
E,
no entanto, a presença que mais se sente no Maranhão é da Polícia.
A
polícia que caça doleiros, que devassa escritórios de construtoras, que
investiga propina no governo, corrupção em cidades do interior como Anapurus e
Mata Roma. Esse belo Estado, rico, de terras férteis, rios perenes, seca de
vergonha porque se tornou figura cativa do noticiário policial do Brasil. E
este povo, este grande povo, humilde e trabalhador, hospitaleiro e forte, que enfrenta
a batalha da terra, que não tem água para beber, nem banheiros onde se assear,
não merece que seja assim.
A
presença mais sentida, hoje, no Maranhão, é a presença da polícia. Polícia
Federal, Interpol, Polícia do mundo todo.
O
estado brilha, a cidade brilha, o povo brilha, mas esse brilho não chega ao
noticiário nacional. Chegam escândalos de corrupção noite e dia. Dinheiro do
povo roubado descaradamente, impunemente e mais da metade da população depende
do Programa Bolsa Família e o maior índice de analfabetismo do Brasil é no
Maranhão, a maior mortalidade infantil, a maior mortalidade materna, o maior
desemprego, a maior dor, a maior vergonha.
Porque
é da polícia a maior presença que se sente no Maranhão. Polícia Federal,
Interpol, Polícia de todo o mundo.
A
polícia investiga escritórios, investiga hotéis, investiga fazendas, investiga
palácios num estado em que 10 % da população detém mais de 80% de toda riqueza.
É o crime organizado, o crime de colarinho branco, a fraude, a propina, o abuso
de poder econômico. E, para contrariar todas as noções sociológicas, não são os
mais pobres, não são os famintos, são os mais ricos e poderosos que a polícia
procura.
A
presença que mais se sente no Maranhão é a presença da Polícia.
Que
vergonha! Têm-se às vezes a impressão de que o nome do nosso Estado há de
aparecer em todos os inquéritos da Polícia Federal, da Controladoria Geral da
União, da Interpol.
O
mundo, o Brasil, não fala mais de nossas riquezas, de nosso acervo
arquitetônico, da tão singular e diversificada cultura do povo, dos gênios
poéticos que aqui habitam e habitaram. Tudo o que falam, tudo o que lembram, é
que a Polícia mais uma vez está no Maranhão. Não devia ser assim, não pode ser
assim.
A
presença que mais se sente no Maranhão é a presença da Polícia.
Dá
vontade de chorar.
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