terça-feira, 26 de agosto de 2014

Presença... da Polícia

A presença mais sentida no Maranhão, hoje, é a presença da polícia.

Editorial JP, 26 de agosto

 
A terra é o Maranhão. O Estado é o Maranhão. Lugar de poetas e artistas, dono de riquezas naturais, como os Lençóis de Barreirinhas, que estão entre as mais belas do mundo. Talvez esteja aqui a maior diversidade cultural do país: Bumba-boi, tambor de crioula, cacuriá,  quadrilhas, carnaval, teatro, dança. E pertence a São Luís, capital do Maranhão, um dos mais admiráveis acervos arquitetônicos coloniais entre todas as cidades do mundo.
E, no entanto, a presença que mais se sente no Maranhão é da Polícia.
A polícia que caça doleiros, que devassa escritórios de construtoras, que investiga propina no governo, corrupção em cidades do interior como Anapurus e Mata Roma. Esse belo Estado, rico, de terras férteis, rios perenes, seca de vergonha porque se tornou figura cativa do noticiário policial do Brasil. E este povo, este grande povo, humilde e trabalhador, hospitaleiro e forte, que enfrenta a batalha da terra, que não tem água para beber, nem banheiros onde se assear, não merece que seja assim.
A presença mais sentida, hoje, no Maranhão, é a presença da polícia. Polícia Federal, Interpol, Polícia do mundo todo.
O estado brilha, a cidade brilha, o povo brilha, mas esse brilho não chega ao noticiário nacional. Chegam escândalos de corrupção noite e dia. Dinheiro do povo roubado descaradamente, impunemente e mais da metade da população depende do Programa Bolsa Família e o maior índice de analfabetismo do Brasil é no Maranhão, a maior mortalidade infantil, a maior mortalidade materna, o maior desemprego, a maior dor, a maior vergonha.
Porque é da polícia a maior presença que se sente no Maranhão. Polícia Federal, Interpol, Polícia de todo o mundo.
A polícia investiga escritórios, investiga hotéis, investiga fazendas, investiga palácios num estado em que 10 % da população detém mais de 80% de toda riqueza. É o crime organizado, o crime de colarinho branco, a fraude, a propina, o abuso de poder econômico. E, para contrariar todas as noções sociológicas, não são os mais pobres, não são os famintos, são os mais ricos e poderosos que a polícia procura.
A presença que mais se sente no Maranhão é a presença da Polícia.
Que vergonha! Têm-se às vezes a impressão de que o nome do nosso Estado há de aparecer em todos os inquéritos da Polícia Federal, da Controladoria Geral da União, da Interpol.
O mundo, o Brasil, não fala mais de nossas riquezas, de nosso acervo arquitetônico, da tão singular e diversificada cultura do povo, dos gênios poéticos que aqui habitam e habitaram. Tudo o que falam, tudo o que lembram, é que a Polícia mais uma vez está no Maranhão. Não devia ser assim, não pode ser assim.
A presença que mais se sente no Maranhão é a presença da Polícia.
Dá vontade de chorar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário