terça-feira, 28 de outubro de 2014

A ressurreição

Editorial JP, 27 de outubro

 
Ressuscitar é um dos milagres mais difíceis do mundo, só cabível aos ungidos diretos do Senhor ou àqueles em contato direto e permanente com o sobrenatural. Mas se tornou possível também na TV a cabo, onde a série Resurrection nos coloca em contato direto com defuntos que retornam 20, 30 anos depois em perfeito estado de consciência e sem nenhuma deficiência carnal. Nesse caso, porém, fica tudo à conta da irrefreável imaginação humana.
Estranho é que bastou o anúncio da vitória de Dilma Roussef para que, de repente, essa palavrinha mágica e milagrosa invadisse o dicionário de originalidades do Maranhão. Defuntos políticos de todas as formas e tamanhos ameaçam ressurgir no plano material, carregando nos ombros os mesmos sacos de maldades e dispostos a cometer os mesmos pecados. Dispensaram todos os espíritos, inclusive e principalmente o espírito público e, a julgar pelo que comentam nos bastidores, pretendem se vingar do Maranhão e dos maranhenses e de todos os que contribuíram para que desencarnassem. É pra rir?
Os corpos ainda nem esfriaram nos cemitérios e eles estão aí, rompendo os féretros e covas para renascerem incólumes, imunes e impunes no plano material. Ainda bem que, de tanto lutar com vampiros e capelobos políticos, aprendemos as mais diversas formas de afastar de nossas esperanças os mais furiosos zumbis. Os “milagreiros” só esquecem que a ressurreição é um ato divino no qual não cabem vinganças e que os zumbis costumam caminhar lentos, sem sequer saber para onde vão.
A morte é inevitável, mas a ressurreição não é opcional, aprendam isso de uma vez. Imaginem só essa estranha procissão de defuntos ministros, defunto governadora, defuntos federais e estaduais, defuntos municipais interferindo no novo modelo político que há de se inaugurar no Maranhão! E essa multidão de Lázaros, ressuscitando também as sinecuras impagáveis, as improbidades inadmissíveis e, ainda, para azar de todos nós, escaparia para sempre do juízo final.
O castigo dos vivos no Maranhão seria a volta dos mortos, ainda com os ossos inteiros, ainda limpos e engomados, sem aquele cheiro característico de quem já morreu. Ora, mas não houve tempo nem para o velório, nem o atestado de óbito político foi assinado e eles voltam assim, sem mais nem menos, sem qualquer explicação? Nem sequer foi discutido se a morada final de cada um deles será o céu ou o inferno e já querem retornar, ansiosos e sequiosos pelo poder?
Mas há o perigo de que um fenômeno ainda mais escatológico possa servir de explicação. O de que, sendo tantos e tão grandes seus pecados, não tenham sido aceitos no mundo espiritual e, não suportando viver no limbo, tenham sido despachados direto da cidade de pés juntos para algum lugar bem distante do Maranhão. Ainda bem!

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