terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Extremos

Editorial JP, 27 de janeiro

De um lado o secretário de Articulação Política e Assuntos Federativos, Márcio Jerry, anuncia a extinção de privilégios no governo do Maranhão; de outro, o governador Flávio Dino reúne 30 prefeitos dos municípios com menor IDH no Estado, trabalhadores rurais e representantes de movimentos sociais. Esses municípios ocupam as últimas posições no ranking de desenvolvimento humano medido pela ONU e pelo IBGE. São extremos que se colidiam no Maranhão: a extrema pobreza e o enriquecimento repentino de apaniguados e privilegiados mensais.
Privilégios sem fim na Fundação da Memória Republicana, na Emap, nas terceirizações e nas concessões sem licitação como as 13 da Sinfra a empresas de ônibus intermunicipais. Privilégios que se confrontam com a carência de alimentação, de vestuário, abrigo, com a falta de cuidados com saúde e a educação, enfim, com a ausência de bens e serviços essenciais à sobrevivência humana. E é preciso dizer que a extrema pobreza tem causas evidentes na corrupção, na discriminação social, no colonialismo, itens a que o Maranhão foi o estado mais submetido nos últimos 50 anos.
O Plano Mais IDH do governador Flávio Dino, ontem debatido com prefeitos, sindicatos e movimentos sociais dos municípios mais pobres do Brasil, tem foco exatamente na diversidade social, cultural, econômica, política, institucional e ambiental dessas regiões. A redução da pobreza, portanto, não é uma tarefa fácil; é uma tarefa árdua para qualquer governo e exige muita determinação. Tanto que o Plano envolve inúmeras secretarias: De Direitos Humanos e Participação Popular, de Desenvolvimento Social, Articulação Política e Assuntos Federativos, Saúde, Educação, Agricultura Familiar, Trabalho e Economia Solidária, Cidades e Desenvolvimento Urbano, Igualdade Racial, além da Companhia de Saneamento e do Instituto de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos – Imesc.
Sem dúvidas, o governo vai precisar imprimir alterações fundamentais nas relações entre o Estado e as populações mais vulneráveis do Maranhão, especialmente estas que, por sua localização e por discriminação social, (quiça eleitoral) foram esquecidas décadas seguidas pelo poder público. Constatou-se já que praticamente metade da população maranhense enfrenta problemas de insuficiência alimentar, um dado tão grave que surpreende até aos mais céticos. A fome, a baixa expectativa de vida, as doenças, o desemprego e carências tão incomuns como remédios e água potável são os enfrentamentos diários dessas populações. Traduzir a dor de tudo isso em estatísticas é fácil; transformar essa realidade será uma árdua tarefa de governo que exige muita determinação.
Mas essa determinação é perceptível quando o governo se alia à sociedade, através dos prefeitos, dos sindicatos e dos movimentos sociais para encontrar soluções viáveis e duradouras, a médio e longo prazos, para um problema tão grave que até hoje o poder público fez questão de fazer de contas que jamais existiu. Enquanto distribuía privilégios a uma casta de escolhidos sacramentados, o modelo político até então encarnado pelo senador José Sarney permitiu que, a partir das desventuras na base da pirâmide social, o Maranhão se transformasse no estado mais pobre e mais vulnerável socialmente do Brasil. Isso precisa mudar.

(No próximo domingo, as notícias mais curiosas do mundo durante a semana) 

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