Editorial
JP, 27 de janeiro
De
um lado o secretário de Articulação Política e Assuntos Federativos, Márcio
Jerry, anuncia a extinção de privilégios no governo do Maranhão; de outro, o
governador Flávio Dino reúne 30 prefeitos dos municípios com menor IDH no
Estado, trabalhadores rurais e representantes de movimentos sociais. Esses
municípios ocupam as últimas posições no ranking de desenvolvimento humano
medido pela ONU e pelo IBGE. São extremos que se colidiam no Maranhão: a
extrema pobreza e o enriquecimento repentino de apaniguados e privilegiados
mensais.
Privilégios
sem fim na Fundação da Memória Republicana, na Emap, nas terceirizações e nas
concessões sem licitação como as 13 da Sinfra a empresas de ônibus
intermunicipais. Privilégios que se confrontam com a carência de alimentação,
de vestuário, abrigo, com a falta de cuidados com saúde e a educação, enfim,
com a ausência de bens e serviços essenciais à sobrevivência humana. E é
preciso dizer que a extrema pobreza tem causas evidentes na corrupção, na
discriminação social, no colonialismo, itens a que o Maranhão foi o estado mais
submetido nos últimos 50 anos.
O
Plano Mais IDH do governador Flávio Dino, ontem debatido com prefeitos,
sindicatos e movimentos sociais dos municípios mais pobres do Brasil, tem foco
exatamente na diversidade social, cultural, econômica, política, institucional
e ambiental dessas regiões. A redução da pobreza, portanto, não é uma tarefa
fácil; é uma tarefa árdua para qualquer governo e exige muita determinação.
Tanto que o Plano envolve inúmeras secretarias: De Direitos Humanos e
Participação Popular, de Desenvolvimento Social, Articulação Política e
Assuntos Federativos, Saúde, Educação, Agricultura Familiar, Trabalho e
Economia Solidária, Cidades e Desenvolvimento Urbano, Igualdade Racial, além da
Companhia de Saneamento e do Instituto de Estudos Socioeconômicos e
Cartográficos – Imesc.
Sem
dúvidas, o governo vai precisar imprimir alterações fundamentais nas relações
entre o Estado e as populações mais vulneráveis do Maranhão, especialmente
estas que, por sua localização e por discriminação social, (quiça eleitoral)
foram esquecidas décadas seguidas pelo poder público. Constatou-se já que
praticamente metade da população maranhense enfrenta problemas de insuficiência
alimentar, um dado tão grave que surpreende até aos mais céticos. A fome, a
baixa expectativa de vida, as doenças, o desemprego e carências tão incomuns
como remédios e água potável são os enfrentamentos diários dessas populações.
Traduzir a dor de tudo isso em estatísticas é fácil; transformar essa realidade
será uma árdua tarefa de governo que exige muita determinação.
Mas
essa determinação é perceptível quando o governo se alia à sociedade, através
dos prefeitos, dos sindicatos e dos movimentos sociais para encontrar soluções
viáveis e duradouras, a médio e longo prazos, para um problema tão grave que
até hoje o poder público fez questão de fazer de contas que jamais existiu.
Enquanto distribuía privilégios a uma casta de escolhidos sacramentados, o
modelo político até então encarnado pelo senador José Sarney permitiu que, a
partir das desventuras na base da pirâmide social, o Maranhão se transformasse
no estado mais pobre e mais vulnerável socialmente do Brasil. Isso precisa
mudar.
(No
próximo domingo, as notícias mais curiosas do mundo durante a semana)
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