Editorial
JP, 24 de abril
Nada
melhor que invernos violentos, borrascas, temporais, tempestades para azeitar
discursos políticos de oposição. Na era das mídias eletrônicas, então, quando
se diz que uma imagem vale mais que mil palavras, uma chuva torrencial, dessas
que derrubam casas, abrem crateras em avenidas, invadem residências, prédios
públicos e... até hospitais, é mais que providencial para manchar a imagem de
um adversário político no poder.
A
chuva, que também serve de desculpas para obras indefinidamente adiadas, gestou
um discurso político próprio, pois tem a capacidade de responsabilizar os
administradores pelos desacertos que costuma ocasionar na vida dos cidadãos. Se
uma avenida alaga a ponto de interromper o trânsito, não é porque choveu muito,
é porque o prefeito não concluiu a devida drenagem da obra; se uma casa cai,
não foi o volume excessivo de água que derrubou, foi o prefeito que não removeu
os moradores das áreas de risco a tempo; se as águas espalham sujeiras pela
cidade, não é culpa de São Pedro, é o prefeito que não está mandando recolher o
lixo da cidade e assim sucessivamente.
Interessante
é que o discurso político da chuva não defende nenhuma ideologia, nem tem cor
partidária. Não é de esquerda, nem de direita, não é capitalista, nem
socialista. A chuva, na verdade, não gosta de políticos. Trastejou, é capaz de
demolir obras recém inauguradas com festas, corte da fita simbólica, propaganda
nos meios de comunicação, entrevistas e discursos apologéticos só para
infernizar a vida do administrador. Exemplos muito usados são as famosas
estradas Sonrisal do Maranhão, aquelas que não podem ver água que dissolvem.
Quase
sempre imunes aos desígnios da natureza, somente os corruptos brasileiros
costumam gostar das chuvas e da falta delas. Se chove demais, socorrem-se com a
indústria das enchentes, amealhando recursos federais para salvar as populações
atingidas. Que vão continuar atingidas nesta e nas próximas enchentes. Se não
chove, socorrem-se com a indústria da seca, na qual o povo seca e eles engordam
com repasses destinados a irrigação, barragens e poços artesianos que nunca vão
ser construídos.
Raro
é o político que não tenha se aproveitado do discurso político da chuva para
arrasar o adversário. E, naturalmente, há aqueles que torcem pela violência das
tempestades, pelo surgimento de crateras nas vias públicas, alagamento de
avenidas, rompimento de bueiros e tudo o mais que revolte a população. Ele só
não percebe que se um dia chegar ao poder a chuva vai ser impiedosa com ele
também.
De
espírito anarquista, o discurso político da chuva vai continuar servindo a
gregos e troianos, esquerda e direita e patrocinando muitas derrotas
eleitorais. Sem contar que existe aquele tipo de administrador que não constrói
nem no inverno, nem no verão, nem no outono, nem na primavera e, portanto, não
precisa do discurso político da chuva para alimentar a oposição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário