JM
Cunha Santos
O
governo pede a colaboração dos brasileiros para vencer a crise, enquanto
promove o mais violento ajuste fiscal. Como bom patriota, mas preocupado também
com o meu próprio desajuste econômico, resolvi colaborar.
Cortei
o sabonete. O sabonete, o sabão em pedra, o detergente, o desodorante, o
perfume e tudo o mais que lembre lavagem que não estou a fim de ir parar na
cadeia.
Para
economizar água, só tomo banho em meses que não tem a letra O. Também não bebo
mais cerveja. É um desperdício todo mundo na maior "água", quando
falta água nas torneiras do Brasil.
Colaborando
com o esforço concentrado do Congresso Nacional, terceirizei o almoço. Só
almoço em casas de parentes e amigos.
Não
compro mais jornais. Só leio as manchetes. De longe, muito longe, para
economizar revolta.
Deixei de estudar. Cinco anos numa faculdade é
muito tempo para não conseguir ganhar, durante o resto de minha vida, o que
Roseana ganhou em uma única noite no Hotel Luzeiros e Lobão com uma simples
raspadinha nas Ilhas Cayman.
O
governo precisa de energia. De minas e energias. Por isso não acendo lâmpadas
nem ligo mais televisão na minha casa. Engomar roupa, nem pensar.
Não
vou mais na feira. Em tempos de recessão, a compulsão por comprar alimentos
contribui para o inchaço da espiral inflacionária.
Cortei
o creme dental. É muito refrescante para um povo que está metido na maior boca
quente.
Cortei
a carne. Sexo só em casa e nunca no aniversário da mulher.
Como
estão falando em cobrar imposto sobre fortunas, tirei meus R$ 500 da poupança,
que não sou besta.
Não
dou mais esmolas. E também não peço porque não adianta.
Cortei
o sal. O preço está muito salgado.
Cortei
o açúcar. O preço é amargo.
Cortei
a gasolina. Estou usando no meu carro o óleo de peroba PT, que é muito mais
econômico.
Minha
contribuição para o ajuste é tão positiva que demiti a empregada e contratei um
serial killer. Com essa crise, ter tantos filhos e netos querendo estudar em
escolas particulares e passear no shopping é crime contra a economia.
Fiz
tudo isso porque também a minha dívida é pública. O que mais tem na porta lá de
casa é cobrador gritando: Me paga, caloteiro!
E
como fui a uma manifestação e lá ouvi as pessoas dizendo que no Brasil está
tudo uma merda, cortei o papel higiênico.
E
é essa a minha contribuição, que não ser muito cheirosa, mas é de coração. E
fica como sugestão para que outros brasileiros colaborem com o ajuste fiscal.
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