Editorial
JP, 21 de maio
Se
o Maranhão fosse um país primitivo, em torno dele se contariam muitas lendas.
Saibam todos, embora, que trataremos aqui de uma história real. A história de
como a consciência política desse Estado foi construída sobre os escombros da
moralidade pública. Parece, entanto, lenda que a maior investigação da história
policial do Brasil, essa que atinge o escândalo de corrupção da Petrobrás,
alcance um senador da República e ex-ministro maranhense e uma mulher que por nada
menos de quatro vezes governou o Maranhão. De um modo às vezes secreto,
ocultando convênios, com filtros no Portal da Transparência, usando golpes
judiciais e abuso de poder econômico, mas, para azar do povo, governou.
Todos
os convocados da delação premiada – Paulo Roberto Costa, Rafael Ângulo e
Alberto Youssef – acusam a ex-governadora Roseana Sarney e o senador Edison
Lobão de serem beneficiários de uma Caixa de Propinas montada com recursos da
Petrobrás, mesmo que, desafiando a unanimidade das denúncias, os acusados jurem
inocência e seus advogados perjurem que será muito fácil trancar os processos
que se lhes abatem sobre as cabeças. Para fechar o cerco, o chamado “Chefe do
Clube do Bilhão”, Ricardo Pessoa, reforça todas as acusações, inclusive reafirmando
que pagou R$ 6 milhões em propina à governadora Roseana Sarney e seu secretário
João Abreu. E outro tanto de propinas a Edison Lobão pela garantia do contrato
de Angra III.
Lobão
surge, em seguida, como sócio da Diamond Moutain, uma holding sediada num
paraíso fiscal, as Ilhas Cayman, voltada no Brasil para a captação de recursos
de fundos de pensão de estatais, (segundo a imprensa nacional, pessoas ligadas
a Jose Sarney e Lobão gerenciaram o Fundo Postalis, dos Correios, deixando
rombos bilionários) fornecedores da Petrobrás e empresas que recebem recursos
de bancos públicos. Um desses bancos é o BNDES onde, conforme o Ministério
Público Federal, que teria pedido a prisão de mais de 60 pessoas, localiza-se
outro lendário esquema de corrupção.
Essa
lenda de gente “magra” e rica, um jornalista que cumpria pautas em jornais de
Brasília e um filho de desembargador do mais paupérrimo estado da Federação,
chega a seu desfecho nos gabinetes da polícia, depois de um longo Scarface (A
força do poder). Poder exercido sob o cutelo da tirania garantida pela ditadura
militar e, em seguida, sob naufrágio
psicológico da ambição desmedida que hoje arrasta essas duas famílias poderosas
aos níveis mais inferiores da degradação pública.
Ninguém
jamais conseguirá medir a quantidade de recursos e as toneladas de alegrias
que, nesse demorado interregno, foram solapados ao Maranhão, mas o povo
maranhense foi obrigado a medir, ao peso do atraso e da miséria, o custo exato
dessa lenda maldita.. E, diante disso, os que hoje estão no poder não podem
enterrar esse passado, se nem sabem quantos passados ainda mais escandalosos
estão ocultos à procura de um futuro por aí.
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