terça-feira, 8 de setembro de 2015

Aylan Shenu afogado na insanidade

JM Cunha Santos


1 - O berço
Afoga-te, Aylan Shenu, que os homens estão se matando mais uma vez
- afoga-te em muitos mares, todos os oceanos da raiva e da perversão
- afoga-te nos versículos da Bíblia, no Corão, nas barbas do profeta Maomé
2 – O parque
Afoga-te, Aylan Shenu, na história, neste rio de cabeças humanas e almas quebradas
- afoga-te, menino morto, nas balas, nas babas adultas dos babadores do horror
- afoga-te e respira a pólvora de cada dia, pois que a morte é o nome da fé
3 – A canção de ninar
Afoga-te em sacerdócios e baldes de sangue, em fronteiras escalavradas e multidões
- afoga-te e não verás o amanha – que quase ninguém quer, de verdade, ver
- afoga-te neste mediterrâneo de bestialidades, cobiças e  amputações
4 – A fé
Afoga-te, Aylan Shenu, nos compêndios rasgados e não lidos de Heródoto
- afoga-te em marés sem pátria e na senilidade crônica da xenofobia
- afoga-te, do Oriente ao Ocidente, em todas as praias da decomposição mental
5 – O brinquedo
Afoga-te, Aylan Shenu, do começo ao fim, nos oceanos terroristas de onde expulsam Deus
- afoga-te nos braços de todas as mães afogadas, afoga-te no direito de crescer

E afoga-te, Aylan Shenu, neste mediterrâneo de carnes subjugadas em que a insanidade humana prosperou

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