terça-feira, 8 de setembro de 2015

Independência e morte

Editorial JP, 8 de setembro

Independência ou morte! O grito ecoa até hoje e a independência real nunca veio. Os colonizados libertaram-se do Reino de Portugal e Algarves, mas imediatamente, colonizaram-se a si mesmos, entusiasmados por uma monarquia de marechais e almirantes que demorou para encontrar na República a mais perfeita e esfarrapada desculpa para a construção de uma elite governamental que, desde então, com raras e imperfeitas exceções, decidiu fundear a democracia.
E o desde então prosseguiria absolutista e a partir daí todos os governos foram provisórios, pelo menos no que diz respeito a resolver os reais problemas do país. Não houve como escapar da legião de monarcas que se instalou em cada uma das províncias da Federação e manteve os escravos e seus descendentes na mais absoluta miséria durante séculos seguidos.
Apesar de que a História do Brasil só acontece nos finais de semana ou até a próxima segunda-feira, quando ninguém está disposto a fazer nada para que não se torne oficial, as mais graves questões da Nação brasileira ainda se mantém as mesmas da monarquia: privilégios, exclusão, absolutismo, corrupção e um reinado de mentiras e engodos tocado a fio de espada e fogo de bacamartes por ditadores de plantão, mesmo que tenham sido eleitos por votos comprados ao analfabetismo e à servidão humana.
Atravessamos o getulismo e haja mais ditadura, porque os reis, embora com nome de presidentes, permaneceram aqui e os escravos saíram das senzalas para os pátios das fábricas ou para o retrocesso feudal dos latifúndios, sem eira nem beira, sem saúde, sem futuro, sem terras, sem tetos e sem educação. Os condes, duques e barões se multiplicaram no descobrir de uma República que só pretendia trocar de reis.
Atravessamos a ditatura militar e haja fôlego para engolir editos institucionais sacramentados por tanques, botas e fuzis e mais uma vez o povo deu a cara a tapa e mais uma vez enfrentou baionetas à procura da inalcançável liberdade.
E chegamos a esse estágio de democracia hostil, no qual o único direito é votar e, às mais das vezes, votar errado, no qual os direitos aparentes são solapados em tenebrosas transações que, igualmente, geram fome, desalento e luto. Somos independentes, mas na dependência de uma República corrupta que dá com uma das mãos e tira com outras duas. Independentes, mas sem saúde, independentes, mas sem escolas dignas, independentes, mas sem segurança, independentes, embora que presos a novos tipos de grilhões.

Mas, quem sabe, cansado de tanta “independência”, o povo brasileiro possa tapar os ouvidos para todos os gritos e matar todos os discursos falsos, todas as farsas políticas que, ontem e hoje, mascararam a democracia no Brasil.

Um comentário:

  1. FEITOSA LIMA - Parabéns pelo texto, muito bem redigido e digno de reflexão pelos leitores que se mais conscientes fossem poderiam estar se movimentando contra as ações retrogradas destes governantes medievais

    ResponderExcluir