Editorial
JP, 8 de setembro
Independência
ou morte! O grito ecoa até hoje e a independência real nunca veio. Os
colonizados libertaram-se do Reino de Portugal e Algarves, mas imediatamente,
colonizaram-se a si mesmos, entusiasmados por uma monarquia de marechais e
almirantes que demorou para encontrar na República a mais perfeita e
esfarrapada desculpa para a construção de uma elite governamental que, desde
então, com raras e imperfeitas exceções, decidiu fundear a democracia.
E
o desde então prosseguiria absolutista e a partir daí todos os governos foram
provisórios, pelo menos no que diz respeito a resolver os reais problemas do
país. Não houve como escapar da legião de monarcas que se instalou em cada uma
das províncias da Federação e manteve os escravos e seus descendentes na mais
absoluta miséria durante séculos seguidos.
Apesar
de que a História do Brasil só acontece nos finais de semana ou até a próxima segunda-feira,
quando ninguém está disposto a fazer nada para que não se torne oficial, as
mais graves questões da Nação brasileira ainda se mantém as mesmas da
monarquia: privilégios, exclusão, absolutismo, corrupção e um reinado de
mentiras e engodos tocado a fio de espada e fogo de bacamartes por ditadores de
plantão, mesmo que tenham sido eleitos por votos comprados ao analfabetismo e à
servidão humana.
Atravessamos
o getulismo e haja mais ditadura, porque os reis, embora com nome de
presidentes, permaneceram aqui e os escravos saíram das senzalas para os pátios
das fábricas ou para o retrocesso feudal dos latifúndios, sem eira nem beira,
sem saúde, sem futuro, sem terras, sem tetos e sem educação. Os condes, duques
e barões se multiplicaram no descobrir de uma República que só pretendia trocar
de reis.
Atravessamos
a ditatura militar e haja fôlego para engolir editos institucionais
sacramentados por tanques, botas e fuzis e mais uma vez o povo deu a cara a
tapa e mais uma vez enfrentou baionetas à procura da inalcançável liberdade.
E
chegamos a esse estágio de democracia hostil, no qual o único direito é votar
e, às mais das vezes, votar errado, no qual os direitos aparentes são solapados
em tenebrosas transações que, igualmente, geram fome, desalento e luto. Somos
independentes, mas na dependência de uma República corrupta que dá com uma das
mãos e tira com outras duas. Independentes, mas sem saúde, independentes, mas
sem escolas dignas, independentes, mas sem segurança, independentes, embora que
presos a novos tipos de grilhões.
Mas,
quem sabe, cansado de tanta “independência”, o povo brasileiro possa tapar os
ouvidos para todos os gritos e matar todos os discursos falsos, todas as farsas
políticas que, ontem e hoje, mascararam a democracia no Brasil.
FEITOSA LIMA - Parabéns pelo texto, muito bem redigido e digno de reflexão pelos leitores que se mais conscientes fossem poderiam estar se movimentando contra as ações retrogradas destes governantes medievais
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