Por Joilson S. Aguiar *
Estamos vivendo num mundo
de vazio, um mundo em que parece não haver sentido, um mundo de falta, um mundo
de desorientação generalizada onde o homem se encontra perdido e desamparado,
sem rumo em sua própria existência. As bússolas que outrora lhe orientavam
encontram-se com os ponteiros enferrujados e não apontam mais para nenhum
lugar; o homem está entregue a sua própria sorte, e eis a natureza trágica da
problemática humana: angustiar-se, sofrer e haver-se consigo mesmo.
O místico não consegue
mais explicar os fenômenos sociais e naturais através de ordens e origens
divinas. A metafísica com suas reflexões sobre a essência abstrata das coisas
não consegue aplacar os inúmeros questionamentos que surgem a cada explicação,
quando o método científico com leis universais que explicariam todos os
fenômenos da existência humana, com seu saber racional, poderia mensurar,
testar e diagnosticar todos os fenômenos da natureza humana.
A ciência agora
proporcionaria ao homem conhecer a si mesmo. Ledo engano, a dor de existir não
tem cura e nem diagnóstico e os mistérios da vida são indecifráveis.
Parece haver uma
predisposição instintiva, inata no homem para uma necessidade de servidão
voluntária, de se entregar ao outro para servi-lo e um desejo latente de não
responsabilizar-se por si mesmo, por suas vontades e desejos sempre tentando
responsabilizar o outro por suas faltas. Esse sujeito desejante, incapaz de
arcar com as consequências de seu desejo, abdicou as rédeas de sua existência e
outorgou ao grande leviatã a sua alma. O homem contemporâneo parece não suporta
viver a vida tal como é, e incessantemente tem narcotizado seus sentimentos e
sua dor, não se permitindo sentir a vida. A sua incapacidade de viver abriu a
caixa de pandora e todos os males da existência humana estão sendo
medicalizados com as chamadas pílulas da felicidade. Vivemos a era da
medicalização da alma. A triste e fatídica verdade é que todos os sentimentos
humanos estão catalogados como patologias em um manual psiquiátrico chamado de
DSM-5, a bíblia dos psiquiatras; somos todos loucos segundo este manual.
O homem contemporâneo, ao
que parece, elegeu os fármacos como o deus do século XXI. Acredito que nunca se
viu em toda história da humanidade civilizações serem transpassadas e
acometidas pelas mais diversas formas de sofrimentos psíquicos como neste
século. Este sujeito que claudica nesta realidade utópica e que não consegue se
adaptar a ela, se encontra desamparado. Por ver suas muletas se quebrarem por
ser frágil, esse sujeito foi reduzido a uma unidade neurofisiológica e suas
múltiplas formas de subjetivação foram relegadas ao nada, seus sentimos e os
mais “naturais” de seus comportamentos agora são as novas patologias do mundo
contemporâneo e estão passiveis de tratamentos medicamentosos, as indústrias
farmacêuticas conseguiram transformar todo e qualquer sentimento em patologias.
O que nos resta então? O que nos cabe fazer de nós mesmos? Teria esse século
cura ou diagnóstico? Sou pessimista quanto a qualquer forma de solução que diga
que o homem possa ser um animal civilizado, talvez a solução fosse nascermos
novamente e não sentirmos mais a vida.
* Filósofo e Graduando de
Psicologia.
Um texto soberbo sobre a condição humana e a crise existencial moderna.
ResponderExcluir