segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Os dois discursos do presidente eleito Jair Bolsonaro

JM Cunha Santos



O alto nível de corrupção no país irritou o povo brasileiro e, pelo voto, pelo voto, senhores, a extrema-direita chegou ao poder no Brasil. O discurso do presidente eleito, Jair Bolsonaro, destoa de tudo o que foi sua pregação durante a campanha e do comportamento por ele adotado, inclusive diante das câmeras. “Faço de vocês minhas testemunhas de que esse governo será um defensor da Constituição, da democracia e da liberdade”, disse. Em seguida, o presidente eleito exalta a liberdade de empreender, liberdade política e religiosa, liberdade de informar e ter opinião.
Mas é preciso bem mais que um discurso, é preciso “um ver para crer”, até que possamos aceitar como verdadeiras as promessas agora de um presidente eleito que, enquanto candidato, semeou sentimentos de ódio e intolerância pelo país afora e que venceu a eleição praticamente de arma em punho, prometendo banir o ativismo político, ameaçando os movimentos sociais e colocando acima de todos os direitos o direito à propriedade.
Esse discurso, se alcançou a maioria decepcionada e indignada dos brasileiros, também estimulou a ação de grupos neonazistas, a xenofobia, o racismo, constrangeu e acuou as instituições públicas e soou como uma ameaça subliminar à paz e à democracia. Os dois Bolsonaros, o que de arma em punho prometia varrer do país a “petralhada” e o que, após eleito, fala em garantia das liberdades constitucionais e cujos adeptos falam em fechar o Supremo Tribunal Federal, soam falsos. O destino do Brasil, portanto, continuará incerto e não sabido até que se possa ter alguma certeza sobre o rumo que, depois desta eleição, tomará o Brasil.
Ele diz, agora, que não existem brasileiros do sul e do norte, que somos todos um país, somos todos uma só Nação. Não foi isso que ouvi, não foi isso o que sentimos durante os meses de campanha da boca de seus capitães eleitorais.
É evidente que precisamos respeitar o resultado da eleição. Assim é a democracia, é assim que funciona a liberdade de vontade e de escolha. Mais que o PT é o próprio poder civil que está pagando por seus erros, incluídos aí a maioria dos partidos políticos que se aventuraram em infames negociatas com recursos públicos. Mas nenhum crime supera a vontade ditatorial, autoritária e tirânica de querer controlar a tudo e a todos à ponta de fuzil.
A liberdade de expressão e de pensamento é, de fato, o maior bem e a maior conquista das civilizações. E, só a título de ilustração, muitos cantos, como os de Geraldo Vandré, Chico Buarque de Holanda e Caetano Veloso, foram interrompidos durante regimes de exceção. Fora do amor, não há salvação para a humanidade. O ódio e a intolerância somente alimentam a miséria e a crueldade. E é também por isso que acordamos, hoje, profundamente preocupados com o destino do Brasil.

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