segunda-feira, 13 de maio de 2019

Dança macabra


JM Cunha Santos


A poesia precisa de veneno:
é natural, é o formol dos vencidos
e assim que os rios começam
e as águas acabam
A poesia precisa de veneno
como os palcos precisam dos mortos
é assim que a luz se defende do olhar
e o pavor humano vira alma
A poesia precisa de veneno
antes durante e depois do parto
para estar onde Deus começa
e o diabo termina
A poesia precisa de veneno
quando nada mais há para comer
além do crepúsculo
neste país sem vitórias
A poesia precisa de veneno
não do som abafado da penicilina
mas do tormento ds réprobos
nas masmorras do poder
não da sopa dos mendigos
cortados a faca em praça pública
A poesia precisa de suicídios
A poesia precisa de mim
para culpa-la de ternura
de amor e de perdão

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