segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Gilmar Mendes tenta salvar a imprensa de censura econômica imposta pelo governo Bolsonaro


Durante a ditadura militar foi proibido noticiar uma epidemia de meningite, cenas de maus tratos a escravos foram censuradas e um diretor de TV foi demitido por permitir que fosse ao ar uma imagem de D. Paulo Evaristo Arns. Tudo indica que é a esses extremos que o governo quer chegar.

JM Cunha Santos



O ministro Gilmar Mendes deu uma porrada seca e bem merecida naqueles que, hoje no poder, usam artifícios legais de ordem econômica na tentativa de mudar a postura crítica da imprensa em relação ao governo.  
O ministro suspendeu, liminarmente, a eficácia da Medida Provisória 802, editada pelo presidente Jair Bolsonaro, que dispensa prefeituras, governos estaduais e o governo federal de publicar atos administrativos em jornais impressos de grande circulação. A MP não poderá gerar nenhum efeito até que seja analisada pelo Congresso Nacional. Essa MP é um desastre para o jornalismo impresso, principalmente jornais localizados em regiões sem indústrias e grandes empresas, carentes de anunciantes no setor privado. Gilmar Mendes considerou que a medida causará grave e irreparável dano aos jornais, especialmente na esfera municipal. E já se tem notícias de que órgãos de imprensa fecharam e outros reduziram a circulação por conta da malfadada Medida Provisória. Sobre ela, disse Jair Bolsonaro: “Eu espero que o jornal Valor Econômico sobreviva a essa MP”.
É a voz totalitária de um ditador aloprado que não aceita críticas ao seu governo. Bolsonaro sonha com um país sem pensamento crítico nas escolas e universidades, sem produções culturais livres e, se deixarem, com uma imprensa sem informação nem opinião, fadada apenas a noticiar atos governamentais, sem comentários ou qualquer tipo de análise que alcance ou retrate a opinião pública.
A CENSURA NA DITADURA MILITAR
Os critérios mais absurdos foram usados para censurar a imprensa e censurar artes, livros e espetáculos no correr da ditadura militar no Brasil. De um lado, equipes de censores ocuparam jornais e revistas para decidir o que podia e o que não podia ser publicado. De outro, os jornais eram obrigados a enviar antecipadamente o que pretendiam publicar à Divisão de Censura da Polícia Federal.
Leis draconianas foram empurradas goela abaixo da sociedade para censurar a imprensa. Primeiro foi a lei 5.520, de fevereiro de 1967. Depois, a censura que veio com a edição do AI-5 e, em seguida, o Decreto Lei 898, a famigerada Lei de Segurança Nacional, de 1969. Sem contar que os censores atuavam também informalmente, através de telefonemas e comunicados por escrito proibindo os órgãos de imprensa de tratar sobre determinados assuntos. A desobediência quase sempre acabava em demissões. Ou coisa pior.
Um exemplo crasso do poder da censura econômica: o Jornal do Brasil perdeu, à época, 15 % de sua receita e acabou negociando com os militares, ou seja, amenizou sua postura crítica ao regime.
A censura se tornou tão macabra e idiota que proibiu o noticiário sobre uma epidemia de meningite ocorrida no Brasil em 1974. Novelas tiveram capítulos cortados e trechos alterados. Até cenas que retratavam os maus tratos aos escravos na novela “A escrava Isaura”, foram proibidas de ir ao ar. O superintendente de um canal de TV foi demitido porque permitiu a divulgação de uma imagem de Dom Paulo Evaristo Arns.
Em matéria anterior (Com uma SS nazista em gestação, o governo Bolsonaro militariza a democracia brasileira e tenta falir a imprensa nacional) mostramos as táticas adotadas pelo governo para impor censura à imprensa do país: restrição de publicidade, pressões econômicas, intervenções judiciais e até ameaças a jornalistas. Por enquanto, podem apostar. Tudo indica que, em matéria de censura, o governo quer chegar aos mesmos extremos que a ditadura militar chegou.

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