(Aos
racistas dos Estados Unidos e do Brasil)
JM
Cunha Santos
Carne
crua do Congo, carne apaixonada
churrasco
de gente no sitio da Klan
carne
preta com sal, carne estropiada
tornozelos
ao molho no horror da manhã
eis
o frito de amantes na tarde arqueada
o
apartheid do bruto que faz soluçar
onde
está meu amor, onde está minha amada
por
favor, sem amor, eu não sei respirar
Parem
as tralhas que a carne afunda em temperos
eis
a carne de Ganga roída por traça
quando
o súcubo vil vareja tão próspero
os
camargos de garfo jantam a sua raça
saudando
o motor que ronca do heicóptero
pra
que postas de negros voem pelo ar
e
servido em bacias aos demônios mamíferos
por
favor, por favor, eu não consigo respirar
Do
Brooklin, do baque, vieram as bestas
os
bodes de Deus estuprando as vestais
vudus
brancos bebendo sangue negro em serestas
e
o leite supremo que mamam animais
pisando
os reis magos e fedendo as florestas
entupindo
as esquinas de um brusco espantar
e
o negro chorando aos ouvidos da Besta
por
favor, por favor, eu não consigo respirar
Somente
para assanhar a Munã
troglodita
vieram
cozinheiros com arpões de Paris
alimentar
com espinhaços uma turba maldita
que
aqui não nasceu porque a fé nunca quis
uns
tumores vestidos com roupas bonitas
suásticas
podres e capuzes do mar
pra
que o negro gemesse em cidades aflitas
por
favor, por favor, eu não consigo respirar
Eu
não consigo respirar sob a lei das cangalhas
tua
arma machuca, teu Satã prometeu
vidas
negras importam ao céu que esbandalhas
aos
zumbis e aos palmares que a selva escondeu
vou
morrer outra vez ao som de tuas metralhas
os
cadáveres postos são teus não são meus
só
é meu este sangue que em nuvens espalhas
e o lugar que não tens lá no colo de Deus
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