quinta-feira, 4 de junho de 2020

“Eu não consigo respirar”

(Aos racistas dos Estados Unidos e do Brasil)
JM Cunha Santos


Carne crua do Congo, carne apaixonada
churrasco de gente no sitio da Klan
carne preta com sal, carne estropiada
tornozelos ao molho no horror da manhã
eis o frito de amantes na tarde arqueada
o apartheid do bruto que faz soluçar
onde está meu amor, onde está minha amada
por favor, sem amor, eu não sei respirar

Parem as tralhas que a carne afunda em temperos
eis a carne de Ganga roída por traça
quando o súcubo vil vareja tão próspero
os camargos de garfo jantam a sua raça
saudando o motor que ronca do heicóptero
pra que postas de negros voem pelo ar
e servido em bacias aos demônios mamíferos
por favor, por favor, eu não consigo respirar

Do Brooklin, do baque, vieram as bestas
os bodes de Deus estuprando as vestais
vudus brancos bebendo sangue negro em serestas
e o leite supremo que mamam animais
pisando os reis magos e fedendo as florestas
entupindo as esquinas de um brusco espantar
e o negro chorando aos ouvidos da Besta
por favor, por favor, eu não consigo respirar

Somente para assanhar a Munã
troglodita
vieram cozinheiros com arpões de Paris
alimentar com espinhaços uma turba maldita
que aqui não nasceu porque a fé nunca quis
uns tumores vestidos com roupas bonitas
suásticas podres e capuzes do mar
pra que o negro gemesse em cidades aflitas
por favor, por favor, eu não consigo respirar

Eu não consigo respirar sob a lei das cangalhas
tua arma machuca, teu Satã prometeu
vidas negras importam ao céu que esbandalhas
aos zumbis e aos palmares que a selva escondeu
vou morrer outra vez ao som de tuas metralhas
os cadáveres postos são teus não são meus
só é meu este sangue que em nuvens espalhas
e o lugar que não tens lá no colo de Deus

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