JM
Cunha Santos
Não
foram poucas as vezes, nestes quase três meses de quarentena apavorada, em que
eu (e não poucos, tenho certeza) fui dormir assediado pelo temor de que
soldados amanhecessem na minha porta. Imaginei até minha mulher interrompendo
meus sonhos juvenis, de posse do inevitável litro de álcool em gel e pílulas
milagrosas que reforçam a imunidade, anunciando: as Forças Armadas estão aí e
como te tens por poeta, essa raça de gente realmente muito perigosa, trouxeram
os tanques, fuzis, caças Mig 17 e uma bandeira que destaca o artigo 142 da
Constituição Federal; e minha cadela, Bambina, avançando nos coturnos da Força
Aérea e da Infantaria a demonstrar suas convicções democráticas e natural ojeriza
por ditaduras e ditadores.
Meus
temores não faziam parte de minhas habituais sinistroses. Afinal, por cima da
pandemia, os domingos e sábados brasileiros, antes que os corintianos
chegassem, estavam servindo a cruzadas pela ruptura do regime democrático,
pedidos de intervenção militar sabe lá Deus porque riscos que o Brasil corria,
ataques às instituições consagradas na Carta Magna, ameaças de retorno aos atos
institucionais, além de cagadas ministeriais como as de Damares e Weintraub
invocando a prisão de juízes da suprema corte e dos governadores do país. Teses
imediatamente conjuradas pelas declarações do general institucional Augusto
Heleno, como alerta às autoridades constituídas, segundo as quais a apreensão
de um celular do presidente da República seria uma evidente tentativa de
comprometer a harmonia entre os poderes e poderia ter consequências
imprevisíveis para a estabilidade nacional.
Lá
fora, quer dizer, às portas do Palácio do Governo, beócios do Leviatã, brucutus do neonazismo,
trapezistas, oportunistas e até herdeiros da Ku Klux Klan, defendiam o
despotismo, a tirania, o autoritarismo, o absolutismo e pregavam uma guerra
civil, celerados e dementes por um patriotismo lamentável que a tantos povos
levou ao inferno da opressão.
E,
ontem, o chefe do Estado Maior das Forças Armadas dos Estados Unidos, general
Mark Milley, sem se aperceber, é claro, desabotoou a camisa de força dos
debates em torno de uma intervenção militar no Brasil, ao se desculpar
publicamente com o povo de seu país, por simplesmente ter participado de uma
caminhada da Besta (o presidente
Donald Trump) para posar para uma foto em frente à igreja de St. Jonh, próxima
à Casa Branca. Estava dizendo a seu presidente que não lhe é dado o direito de
ameaçar jogar as Forças Armadas contra o povo americano, o que Trump havia
feito dias antes; estava lamentando sua participação (dele mesmo general) numa
caminhada que foi garantida pelas bombas de gás e balas de borracha contra uma
multidão pacífica que protestava contra o racismo e a violência policial. – Eu não
devia ter estado lá; minha presença naquele momento e naquele ambiente criou
uma percepção de envolvimento dos militares na política interna, disse Mark
Milley. -- Devemos defender o princípio de um Exército apolítico que está tão
profundamente enraizado na própria essência de nossa República, acrescentou.
No
Brasil do momento em que vivemos, como se aqui fosse a República de Bananas de
Sidney Porter, a Anchúria das demolições constitucionais, há uma insistência
cada vez mais descabida para que as Forças Armadas brasileiras sigam uma porção
de doidos e pornógrafos olavistas instalados na República e joguem suas tropas
contra as instituições democráticas, contra a Constituição Federal, contra o
estado de Direito e o povo brasileiro. Manifestações das quais participam o
próprio presidente da República, em flagrante estado de ameaça contra tudo e
contra todos e ao lado de um projeto de terrorista como Sara Winter, dentre
outros.
Lamentável,
mas disse aqui várias vezes que não acredito na possibilidade de intervenção
das Forças Armadas para referendar o poder de capitães do mato como Sérgio
Camargo, nazistas como Fábio Wangjarten,
destrambelhadas como Damares Alves e doidos de pedra como Abraham Weintraub.
Que
se mirem “o cabo e o soldado” dos Bolsonaros no general americano, a saber que
a missão dos exércitos é defender o país, não fazer política, não atacar as
instituições, nem se deixar levar para missões pretendidas que somente
envergonham e isolam da comunidade internacional o nosso amado Brasil.
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