quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Fogo e desmatamento na Amazônia: o mundo ameaça não mais negociar com produtos do Brasil

De janeiro a julho de 2019, o desmatamento na Amazônia foi 62,7 % maior que no mesmo período de 2018 e os focos de incêndios aumentaram 70 %.

JM Cunha Santos


Com sua política ambiental de destruição da flora brasileira, o governo Bolsonaro pilota o Brasil na direção de um abismo econômico sem fundo. A carta do grupo “Parceria das Declarações de Amsterdã”, que reúne 8 países da Europa liderados pela Alemanha, ao vice-presidente da República, ameaçando não mais comprar nem vender produtos brasileiros, é apenas o reforço a um boicote que já vem acontecendo desde junho. O motivo é o astronômico desmatamento da Amazônia que cresceu 34 % entre agosto de 2019 e julho de 2020, incentivado pela política ambiental criminosa adotada pelo governo.

O governo incentivou a exploração de áreas ambientalmente protegidas, desmontou o Ibama e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e reduziu o valor das multas por crimes ambientais. Enquanto o governo contestava os dados do INPE sobre o desmatamento na Amazônia e recriminava os fiscais do Ibama por destruir equipamentos madeireiros de ataque à floresta, de janeiro a julho de 2019 o desflorestamento na Amazônia foi 62,7 % maior que no mesmo período do ano de 2018 e os incêndios aumentaram 70 % no mesmo período. Ontem, ainda com base em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) o Jornal Nacional, da Rede Globo, noticiou que o incêndio no Pantanal atinge uma área que corresponde a 10 vezes os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro juntos.

As ameaças internacionais de boicote a produtos brasileiros não surgiram agora com a carta ao vice-presidente da República, Hamilton Mourão. Em junho, grupos de ativistas e varejistas e a União Europeia defenderam a retirada de produtos brasileiros das prateleiras dos supermercados em resposta à política ambiental do governo Bolsonaro. Uma das razões para o boicote foi o Projeto de Lei 2633, o chamado PL da grilagem, através do qual o governo prevê a regularização fundiária de terras ocupadas da União e que, segundo especialistas, acarretaria o desmatamento imediato de 11 a 16 mil quilômetros da floresta amazônica.

O boicote ao Brasil é gigantesco. Em 19 de maio deste ano, nada menos que 47 empresas e grupos empresariais com atuação no Reino Unido propuseram a retirada de produtos agroalimentares nacionais dos supermercados da Europa. E manifestação idêntica aconteceu também nos Estados Unidos. O próprio parlamento europeu se uniu a varejistas britânicos para propor a mesma reação contra o Brasil.

Na carta recente ao presidente da República, os investidores estrangeiros revelam a impossibilidade de atender a seus próprios critérios ambientais, sociais e de segurança se continuarem negociando com o Brasil.

A irresponsabilidade do governo brasileiro não tem limites. O Ministério do Meio Ambiente, do passador de boiada Ricardo Salles, investiu tão somente R$ 105 mil para conservação da floresta amazônica neste ano de 2020. E o Pantanal e a Amazônia queimam em proporções jamais vistas.

Mas este é o governo em que o presidente da República propôs a redução das terras indígenas e considera os índios “quase humanos”, o governo que edita um projeto de lei oficializando a grilagem de terras públicas.

Parece que houve um acordo pré-eleitoral em favor de Jair Bolsonaro que incluiu o apoio ao desmatamento na Amazônia para beneficiar madeireiros, a não punição de produtores rurais que reagirem com armas nos conflitos pela terra, a redução e até o desaparecimento de reservas indígenas e terras remanescentes de quilombos.

A tragédia ambiental a que nos referimos no artigo anterior não se resume ao fogo gigantesco e ao desmatamento monstruoso na floresta. Está se transformando na maior tragédia econômica da história do Brasil.

E Bolsonaro voltou a afirmar que são o índio e o caboclo que “tacam” fogo na Amazônia. A declaração é de uma irresponsabilidade sem tamanho. Índios e caboclos nem sequer dispõem de equipamentos e recursos para devastar e incendiar tanta floresta. O governo Bolsonaro, porém, está mostrando que dispõe de todos os recursos e equipamentos para destruir as florestas e a economia do Brasil.


Nenhum comentário:

Postar um comentário