JM Cunha Santos
A
morte de poetas não importa tanto – importam os versos afogados nas cantinas
das memorias
E,
“Haja Deus, quanta beleza”, quanta tristeza, quanta incerteza
nesse
caminho que vai da terra quadrada ao por do sol
Os
chicos são importantes, quando vivem e quando morrem
os
não chicos dificilmente escapam da dor oficial
É
como um verso dentro de um circo: todos vão rir do poeta pegando fogo
mas
ao mesmo tempo vão cantar até ficarem sem goelas
Só
peço que sofram; sofram hoje e amanhã
sofram
enquanto é futuro
com
a flor e o samba caminhando juntos com a rasga mortalha
dentro
da mesma febre que faz esse país tão bonito
e
o poeta embebido em nuvens e lembranças
de
uma cidade São Luís que já foi de outros séculos
uma
cidade que já pertenceu a outros continentes (e a seus pés)
talvez
a outros planetas
escrevendo
nos calções e em papel de embrulho
no
chão de tábua de um céu que só ele sabia aonde estava
uma
história que cai com o mesmo barulho do Bar do Abrigo
o
mesmo barulho das portas que se fecham para todos os poetas
despencando
do soluço do bardo Chico que foi e deixou a ladeira
mas
ainda sambando na escadaria do sol poente
ainda
com a serpente enrolada no pescoço
ainda
dançando a valsa dos tambores requentados
no
lombo de um boi que amanhece toda tarde
no
lombo de uma tarde que fica à espera da manhã
E
“Haja Deus, quanta beleza”
Haja
Deus, quanta tristeza
Haja
Deus, quantos chicos e ladeiras estão sumindo de São Luís!
Parabéns nobre jornalista, bela homenagem ao poeta popular e companheiro de trabalho na CEMAR.
ResponderExcluirRicardo Ferro da Silva
Estive muito com ele. E era como se não fizesse sambas. Era como se os sambas já estivessem lá, dentro dele.
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