JM Cunha Santos
“O passado nunca está definitivamente concluído”
(Pérsio Arida)
“O passado nunca está definitivamente concluído”
(Pérsio Arida)
A impressionante e decisiva frase de Pérsio Arida em texto na revista Piauí, sob o extravagante título Rakudianai, no qual conta a história vivida por ele de um processo na Justiça Militar por crime contra a segurança nacional, mais um desses capítulos mortos de nossas vidas que, por pura obsolescência jamais contamos, me deu a idéia de recolher histórias vividas por maranhenses nos anos de chumbo. Essas histórias poderão ser enviadas por e-mail a j.m.cunhasantos@hotmail.com ou jmcunhasantos@gmail.com.
Com objetivo ilustrativo conto que quando, finalmente, pude ter acesso à minha ficha de subversivo, trasladada da extinta Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) para o Arquivo Público do Município, levei um susto ao ser designado pelo código 007, significando que eu era um elemento perigoso com possível atividade na luta armada (logo eu que nunca tive uma arma em minhas mãos e abomino toda e qualquer forma de violência) vigiado, seguido, procurado pela polícia política do regime fascista instalado no Brasil.
Mas aconteceram dois outros episódios que ilustram a minha atividade política subterrânea e solitária. Pérsio Arida foi indiciado aos 18 anos de idade por se integrar no Var-Palmares tendo participado de reuniões sobre a luta armada para tomada do poder e acusado de aliciar colegas no colégio Aplicação, conforme o álbum de terroristas e subversivos da Polícia de São Paulo. Quando, nos idos de 1978, o jornalista Coelho Neto convocou a primeira reunião para discutir a meia-passagem no Campus Universitário, argumentei que o movimento deveria se estender aos estudantes de 1º e 2º graus onde estava a massa estudantil mais empobrecida da população. A decisão ficou para o ano seguinte e realmente foi encampada pelo Diretório Central dos Estudantes que no mês de setembro, sob a liderança de Agenor Gomes, Juarez Medeiros, José Maria Medeiros, Renato Dionísio, dentre outros, fez eclodir a Greve de 79, provavelmente o primeiro movimento de massas a ir às ruas e enfrentar as forças do regime no Brasil.
Havia muito medo naquela época. Tanto que na primeira reunião em praça pública (a praça do Campus da Universidade Federal do Maranhão) havia mais policiais terrivelmente armados que estudantes. Os discursos se resumiam à situação da educação no país e da própria Universidade, chegando, em alguns momentos, ao ridículo extremo de reclamar da situação dos banheiros da UFMA. Quando cederam a palavra aos solitários e desorganizados como eu, fui lá e disse tudo. Disse, inclusive, que subversivos não éramos nós, que subversivos eram aqueles que haviam torturado Geraldo Vandré (para não dizer que não falei das flores) e dado cabo da vida do Operário Manoel Filho. Foi impossível evitar a pancadaria, o corre-corre e as prisões, mas eu consegui escapar dentro de um fusca cujo proprietário até hoje não lembro quem é.
Outras histórias como essa poderão ser contadas. Cheguei, inclusive, mesmo não pertencendo a nenhuma organização de esquerda, perigosa ou não, a presidir, apenas formalmente, é claro, um estranho Comitê de Defesa de El Salvador, a principal mancha na minha ficha de subversivo. Não serão, certamente, histórias muito originais, conforme conclui o próprio Arida revelando a “tempestade doméstica” que antecedeu sua clandestinidade, o processo na Justiça Militar e os meses de prisão que amargou nos porões da ditadura. Se puderem contar, de forma clara e muito rápida, certamente servirão para resgate de uma História que ainda carece de muitas informações e revelações.
Só fazia tempo que não lia ou ouvia uma frase com tanta força de argumentação como essa em que Pérsio Arida diz que “o passado nunca está definitivamente concluído”. O meu não está e talvez não mais me sobre tempo para uma aventura autobiográfica. Mas quem sabe algum leitor ouse aqui, em poucas palavras, concluir seu próprio passado ainda oculto e incompleto nas gavetas da memória.
GENIAL. VALE COMO HISTÓRIA
ResponderExcluirMEU CARO CUNHAO ME DIGA QUANTAS PESSOAS MORRERAM E FORAM TORTURADAS DE 64 A 1985 E QUANTAS PESSOAS MORRERAM OU FORAM MORTAS E TORTURADAS DE 1985 A 16/04/2011, ANOS DE CHUMBO É OS NOSSOS DIAS ATUAIS,O QUE SERIA DE MUITA GENTE HOJE, DIGO ARTISTAS, ESCRITORES, POLITICOS SE NAO FOSSE A DITADURA, A LUZ PRESISA DE TREVAS PARA BRILHAR.
ResponderExcluirótim a sacada, recuperar a amemória é manter viva a história
ResponderExcluirHá tanta memória perdida em meio a essa história Glauber, tanto passado incompleto, amigo Felipe Klamt, tanta treva precisando de luz, meu caro anônimo e ainda sou obrigado a concluir que a ditatura se foi, mas o fascismo e a tortura permanecem Infelizmente.
ResponderExcluirNunca vi nem ouvi um subversivo admitir que é subversivo. Aliás, as prisões estão cheias de inocentes (como tenho dó destes inocentes).
ResponderExcluirAssinado ROBERTCP
Nunca ví nem ouvi um subversivo admitindo que foi subversivo. É só olhar nos presídios, para ver como está cheio de "inocentes". Quem protege, defende ou se junto com subversivo, o queé?. Não seria também, um subversivo??? Caiam na real. O que teria acontecido se as forças legais não tivesse dominado os comunas. Provavelmente não estariam por aí pra contar suas estórias. Eu AMO O MEUS PAÍS.
ResponderExcluirEita ressaca brabba... Vamos atualizar o blog poeta...
ResponderExcluirAcorda Cunha. Bota materia nova no blog, porra.
ResponderExcluirMeu amigo, voc\~e tem história para contar, eihn???
ResponderExcluirPassou pela vida VIVENDO e não simplesmente como um turista.
Espero que consiga!!!
Abraços
vc já vistoriou em fortaleza-ce, documentações do dops de são luis? é sabido que ali existe farta documentação de dois indiciados pelo dops/slz-ma, que a pedido de um influente arcebispo metropolitano da capital maranhense, ao contrario de muitos "compañeros de dce/ufma", foram dispensados eles, mas figuram hoje como verdadeiros herois da grve de 79. faça essa pesquisa e a divulgue, recorrigindo a historia dessa greve.
ResponderExcluirPuxa! É impressionante como a história consegue despertar os homens para a realidade. Agradeço ttodas as manifestações, tanto as que concordam como as que discordam do que foi ideologicamente proposto nesse post. Em tempo: tem razão o anônimo que reflete que os principais heróis de todas as batalhas são os heróis anônimos.
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